segunda-feira, 29 de julho de 2013

Saiu o "Songbook" do Wilson Baptista

Meu caro leitor, estou feliz da vida! Chegou aqui em casa, na semana passada, um exemplar do "Cancioneiro Comentado de Wilson Baptista", um muito recentemente lançado livro que contém 105 partituras cifradas da obra do grande sambista. Trata-se de um trabalho primoroso do multi-artista Rodrigo Alzuguir, que acha graça quando eu chamo o seu livro de "Songbook do Wilson Baptista". Mas o apelido é pertinente, gente! Olha só que belezura de capa e de contracapa



















Além das partituras cifradas o livro traz também um perfil biográfico do sambista, que responde, em grande parte, a um questionamento antigo meu, sobre o esquecimento deste gênio do samba. Parece que encontramos a resposta no fato de Wilson não ter tido grandes preocupações consigo mesmo, com sua saúde, seu futuro e também a ver com o tempo, a época, em que faleceu. Foi em 1968, quando aquela onda de revalorização de sambas e de velhos sambistas ainda não tinha ocorrido. No início dos anos 70 é que viraram moda e até mesmo cult, os sambas de Adoniran Barbosa, de Cartola, de Nélson Cavaquinho, Ismael Silva, e outros...Mas em 1968, o pessoal estava ligado mesmo era nos efeitos do Golpe Militar, em como acabar com aquele tempo de exceção política. Deu azar portanto o nosso Wilson Baptista.

O principal adversário dele era ele mesmo. A sua forma de levar a vida, bem desleixada, na boêmia e vivendo da venda imediata de seus sambas, ou parte deles, em parceria, não dando atenção ao fato de que, além do dia de hoje, sempre haverá o de amanhã. Assim, diferentemente do que fizeram tantos outros compositores que, além da atividade musical, sempre tiveram alguma outra atividade profissional ou burocrática paralela, Wilson insistia em viver apenas da música. A primeira vez que chamou a atenção da rapaziada que gostava e entendia de samba, talvez tenha sido com  "Lenço no Pescoço", que Sílvio Caldas gravou em 1933.


Pesquisando aqui e acolá, topo com livros que registram a época de ouro do rádio e da nossa música, entre os anos 30 e 50 do século XX, e vejo referências várias a cantores e compositores que tinham empregos e bicos, ora integrando os castings das rádios, das orquestras ou mesmo tendo empregos formais...e ele? Acreditava e vivia de seu samba, mesmo sofrendo um deslavado preconceito, sempre sendo chamado de vagabundo. Ele só não tinha um trabalho formal.
Tudo bem. Sejamos justos em fazer uma breve ressalva. Entre 1936 e 1937, Wilson formou uma dupla de cantores com Erasmo Silva, na Orquestra "Os  Almirantes Jonas" que os levou a ficar fora do Rio de Janeiro, excursionando durante dois anos pela Argentina e sul do Brasil. Fixaram-se até um tempo em programas de rádio nas emissoras Record e Tupi de São Paulo. Eram a dupla "Verde Amarelo", que se vestia de uma forma meio ridícula, o que muito aborrecia o vaidoso Wilson Baptista. Durou apenas estes dois anos. Erasmo bem que gostaria de continuar, mas não aguentava muito o jeito como gostava de viver o seu parceiro de voz. Sempre em busca dos bares e cabarés, da noite, apesar de não gostar de se embebedar. Erasmo também achava estranho que o Wilson compusesse belos sambas e entregasse a obra a outros cantores. Deu briga e se separaram.
A dupla verde e amarela: Erasmo e Wilson

Wilson gostava era mesmo da night carioca. Aquele submundo da Lapa, das dançarinas de cabaré, era a sua "praia". Era de onde tirava inspiração e tão bem realizava suas crônicas em forma de canção. Conhecia de muito perto a realidade e os dramas daquelas mulheres sofridas e descrevia como poucos os seus sentimentos. Aliás, foi quem, muito antes de Chico Buarque, fez sambas na voz feminina, do sentimento das mulheres. São muitos os sambas que comprovam este "incorporar" feminino de sua lavra. Um bom exemplo é "Boca de siri", que pede que ninguém conte a farra da moça pra seu moreno. Ouçamos a versão que Cristina Buarque gravou.


Araci de Almeida gravou em 1944 "Sambei 24 horas", uma parceria de Wilson com Haroldo Lobo e que é outro belo exemplo de samba na primeira pessoa feminina. 




Wilson pretendia escrever um livro de memórias, que ele chamaria de "Café Nice"...nossa!!! Ia ser um baita registro de uma vida tão intensa. Tenho comigo o prólogo escrito ainda em 1964. Vejam:

“Por ser com a palavra prólogo que os mestres escritores começam as suas obras, eu também usarei prólogo. Sambista, aspiro escrever minhas memórias. Os amigos que me deram o prazer do feliz contato, ficarão sabendo que não irão ler nenhuma obra-prima, mas apenas anotações de um compositor que faz um esforço tremendo para botar nestas linhas o que conseguiu ver e guardar na memória, durante anos no rádio, os episódios mais marcantes.
De fato, vi muita coisa, seu crescimento, suas diabruras e até sua maioridade. Depois de muitas pesquisas e perguntas se valia a pena ser escritor ou não, se valia a pena escrever essas memórias, o lado sim venceu o lado não. Então, depois de compor mais de 720 músicas, letras e músicas, com parceiros e sem parceiros, gravado pela maioria dos nossos melhores cantores, com mais de um terço dessas músicas fazendo sucesso, cantadas em todo o Brasil e algumas no estrangeiro, vivendo exclusivamente de direitos autorais dessas músicas, e já tendo sido cantor com disco gravado, trabalhando em emissoras e conhecendo todas as atividades da música popular durante muitos anos, tento contar aos amigos o que vi por dentro e por fora dos bastidores, como nascem os grandes sucessos, como viviam seus autores, quem foram seus intérpretes, como apareceram, o que pretendiam, o que conseguiram, suas lutas.
Não acho que mereço ser criticado como escritor, pois no momento não me julgo como tal. Depois de muitas lutas – se devia ou não –, numa tarde em Sepetiba dou a primeira canetada no meu samba mais difícil até hoje. Que me ajude o vento, o mar, o sol – frágil nesse mês de junho –, que me ajude Deus.
Por ter sido ali na Avenida Rio Branco, anos atrás, no modesto café de cinco portas, com cadeiras e mesinhas de vime do lado de fora, com cocos verdes no chão e ao seu redor, que todos nós do rádio tivemos nossos primeiros sonhos, dou a essas memórias o seu nome: Café Nice.
Sepetiba (RJ), 3 de junho de 1964.

Este foi Wilson Baptista. Você deve sempre querer saber mais sobre ele, conhecer seus belíssimos sambas e, desta forma, fazer justiça àquele que foi, na opinião de Paulinho da Viola, o maior de todos. 

O Cancioneiro já está à venda nas lojas. Mas quem quiser fazer como eu, pode encomendá-lo através da fan page do Projeto no Facebook, cujo endereço é https://www.facebook.com/WilsonBaptista100Anos . Melhor ainda pra quem estiver no Rio que poderá ir assistir ao espetáculo "O Samba Carioca de Wilson Baptista", que está em cartaz no Casarão Ameno Resedá, às sextas e sábados, às 21h, onde também é vendido o livro.

Um abraço e até a próxima.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Toda luz ainda é pouca para Wilson Baptista

Estou entre os que consideram Wilson Baptista um dos maiores sambistas de todos os tempos. Sem querer escolher o melhor, sabemos hoje muito sobre a obra de Cartola, Noel Rosa, Nélson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Ismael Silva, Ataulfo Alves, e os mais recentes Candeia, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Mas cá pra nós, entre todos estes nomes, o menos conhecido é mesmo Wilson Baptista. O cara é tão esquecido que seus sambas mais cantados são atribuídos como sendo de seus intérpretes. Mas eu tenho certeza que o leitor deste meu cantinho já ouviu e gosta muito de sambas como "Meu mundo é hoje".


Pois então, o camarada fez mais de 600 sambas comprovadamente e mais uns tantos que a gente nem sabe, porque ele vendou por inteiro sem constar o nome na parceria. Quer mais um exemplo? "Emília", em parceria com Haroldo Lobo, faz sucesso desde a primeira gravação de Vassourinha, em 1941. 

"Louco", teve mais de 50 gravações diferentes , todo mundo canta por aí e ninguém sabe que é dele, em parceria com Henrique de Almeida. Vejam este vídeo com o Galocantô. 



O que dizer do samba de breque eternizado por Moreira da Silva "Acertei no Milhar", numa genial parceria com Geraldo Pereira?
O pessoal gosta, canta e ri muito, mas nem todos sabem que é obra do nosso Wilson Baptista. Ouçamos a gravação original.


Wilson Baptista jamais se preocupou com o amanhã, como deixou claro no samba, "meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim..." Fez sucesso sim, como compositor, através das inúmeras gravações de seus sambas e marchinhas de carnaval, que lhe rendiam o suficiente para sobreviver do jeito que gostava, sem relógio de ponto e frequentando o Café Nice e outros badalados botecos, sem se embebedar, curtindo a boemia carioca , que tão bem descreveu em seus sambas. 

Foi um  dos maiores vendedores do "mercado" musical dos anos 30, 40 e 50. E vendia caro, não era a preço de banana como muitos poderiam pensar...sabedor que direito autoral aqui no Brasil não é confiável, tratava de garantir a vida à vista e no ato. Por isso tantos parceiros desconhecidos nos selos de gravação, ao lado de muitos outros bambas, realmente compositores, como Nássara, Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, Benedito Lacerda, Haroldo Lobo, José Batista e próprio Noel Rosa, com quem fez uma única canção. Ouçamos "Deixa de ser Convencida", samba de Noel e Wilson, na voz de Roberto Paiva.


Meu amigo e leitor assíduo, João Velho, fã nr. zero de Nara Leão, sempre lembra que Nara fez ressurgir vários bons sambistas, gravando Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Paquito, Anescar do Salgueiro, Casquinha da Portela e outros mais, numa época em que todos estavam esquecidos. Até por Nara nosso Wilson não foi lembrado. Quem sempre deu luz a seus sambas foi Paulinho da Viola que gravou, além da citada "Meu mundo é hoje", "Chico Brito", "Mulato Calado", "Nega Luzia", "E o 56 não veio", "Emília" e "Mundo de Zinco". 

A genial Cristina Buarque também lembrou de Wilson Baptista no seu trabalho de título "Ganha-se pouco, mas é divertido", totalmente dedicado ao sambista, cuja faixa onde está um pot-porri destaco pra você ouvir. Nela, com a ajuda de outros intérpretes, ouçamos "Louco", "Emília", "Oh seu Oscar", "Rosalina", "O Bonde de São Januário" e "Mundo de Zinco".






Rodrigo Alzuguir, sem dúvida, é o maior divulgador da obra do maestro da caixa de fósforo, por isso quero recomendar que meus leitores conheçam todos os trabalhos relacionados aos seu belíssimo Projeto "O Samba Carioca de Wilson Baptista". Além do sítio na internet (http://osambacariocadewilsonbaptista.blogspot.com.br/), ele produziu um cd duplo e um musical apresentado em diversos teatros do Rio de Janeiro, o livro "Wilson Baptista - cancioneiro comentado", uma espécie de songbook com 105 partituras de música do sambista, e ainda uma nova biografia que breve estará nas livrarias de todo o País.

Há muito ainda o que dizer sobre este extraordinário sambista. Fica pra próxima. Mas na postagem anterior, que vem logo abaixo, tem umas outras canções de Wilson, estas sim, muito pouco conhecidas do público em geral. Siga, leia e ouça.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Hoje e sempre Wilson Baptista

Um dos fatos que mais me entristecem no mundo do samba é o total esquecimento que sofre um dos meus preferidos compositores do gênero: Wilson Baptista . É gênio. Como Cartola, como Noel, como Paulinho da Viola. E no entanto, pouco reconhecido. Já falei dele aqui no sambabook por conta de uma polêmica com Noel Rosa. E esta é mais uma tristeza. Quando falo dele as pessoas só lembram por conta desta tal polêmica. É incrível que não conheçamos sua obra, que é vasta. É inexplicável que as rádios e tvs não executem quase nada de seus sambas, verdadeiras crônicas do cotidiano carioca dos anos 1930 a 1960.

Hoje, 3 de julho de 2013, Wilson Baptista completaria 100 anos se ainda entre nós estivesse. E vou falar pouco. Sua obra é uma história. É a crônica do dia a dia do Rio de Janeiro de seu tempo Vamos ouvir mais do que ler hoje. É preciso que este genial sambista seja reconhecido e eu peço a ajuda de vocês nesta tarefa.
 
O blogue O Couro do Cabrito preparou uma seleção de sambas pouco conhecidos dele. Humildemente reproduzo para que meus leitores conheçam e curtam estes sambas,

Estás no meu caderno (Benedito Lacerda - Osvaldo Silva - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1934 na VICTOR - canta: Mario Reis

Não durmo em paz (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1936 na ODEON - canta: Carmen Miranda 1936

Meu último cigarro (Wilson Baptista) - Samba gravado em 1937 na COLUMBIA - canta: Déo

Não sei dar adeus (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na ODEON - canta: Déo

Mania da falecida (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Quando dei adeus (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na VICTOR - canta: Odete Amaral

Carta verde (Valfrido Silva - Wilson Baptista - Armando Lima) - Samba gravado em 1940 na COLUMBIA - canta: Zila Fonseca

Brigamos outra vez (Marino Pinto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1940 na VICTOR - canta: Aracy de Almeida

Depois da discussão (Marino Pinto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1940 na VICTOR - canta: Odete Amaral

É mato (Alvaiade - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na ODEON - canta: Odete Amaral

A voz do sangue (Valfrido Silva - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na ODEON - canta: Newton Teixeira

A mulher que eu gosto (Ciro de Souza - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Hildebrando (Haroldo Lobo - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Essa mulher tem qualquer coisa na cabeça (Cristóvão de Alencar - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1942 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

O Juca do Pandeiro (Augusto Garcez - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1943 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Gosto mais do Salgueiro (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1943 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Como se faz uma cuíca (Haroldo Lobo - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1944 na VICTOR - canta: Anjos do inferno

Apaguei o nome dela (Haroldo Lobo - Wilson Baptista - Jorge de Castro) - Samba gravada em 1944 na CONTINENTAL - canta: Arnaldo Amaral

Benedito não é de briga (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1945 na ODEON - canta: Quarteto Ases e Um Coringa

Outras mulheres (Wilson Baptista - Jorge de Castro) - Samba gravado em 1945 na RCA VICTOR - canta: Carlos Galhardo

Memórias de um torcedor (Geraldo Gomes - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1946 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Filomena, cadê o meu? (Wilson Baptista - Antônio Almeida) - Samba gravado em 1949 na RCA VICTOR - canta: Anjos do Inferno

Olhos vermelhos (Roberto Martins - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1951 na RCA VICTOR - canta: Anjos do Inferno