segunda-feira, 15 de julho de 2013

Toda luz ainda é pouca para Wilson Baptista

Estou entre os que consideram Wilson Baptista um dos maiores sambistas de todos os tempos. Sem querer escolher o melhor, sabemos hoje muito sobre a obra de Cartola, Noel Rosa, Nélson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Ismael Silva, Ataulfo Alves, e os mais recentes Candeia, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Mas cá pra nós, entre todos estes nomes, o menos conhecido é mesmo Wilson Baptista. O cara é tão esquecido que seus sambas mais cantados são atribuídos como sendo de seus intérpretes. Mas eu tenho certeza que o leitor deste meu cantinho já ouviu e gosta muito de sambas como "Meu mundo é hoje".


Pois então, o camarada fez mais de 600 sambas comprovadamente e mais uns tantos que a gente nem sabe, porque ele vendou por inteiro sem constar o nome na parceria. Quer mais um exemplo? "Emília", em parceria com Haroldo Lobo, faz sucesso desde a primeira gravação de Vassourinha, em 1941. 

"Louco", teve mais de 50 gravações diferentes , todo mundo canta por aí e ninguém sabe que é dele, em parceria com Henrique de Almeida. Vejam este vídeo com o Galocantô. 



O que dizer do samba de breque eternizado por Moreira da Silva "Acertei no Milhar", numa genial parceria com Geraldo Pereira?
O pessoal gosta, canta e ri muito, mas nem todos sabem que é obra do nosso Wilson Baptista. Ouçamos a gravação original.


Wilson Baptista jamais se preocupou com o amanhã, como deixou claro no samba, "meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim..." Fez sucesso sim, como compositor, através das inúmeras gravações de seus sambas e marchinhas de carnaval, que lhe rendiam o suficiente para sobreviver do jeito que gostava, sem relógio de ponto e frequentando o Café Nice e outros badalados botecos, sem se embebedar, curtindo a boemia carioca , que tão bem descreveu em seus sambas. 

Foi um  dos maiores vendedores do "mercado" musical dos anos 30, 40 e 50. E vendia caro, não era a preço de banana como muitos poderiam pensar...sabedor que direito autoral aqui no Brasil não é confiável, tratava de garantir a vida à vista e no ato. Por isso tantos parceiros desconhecidos nos selos de gravação, ao lado de muitos outros bambas, realmente compositores, como Nássara, Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, Benedito Lacerda, Haroldo Lobo, José Batista e próprio Noel Rosa, com quem fez uma única canção. Ouçamos "Deixa de ser Convencida", samba de Noel e Wilson, na voz de Roberto Paiva.


Meu amigo e leitor assíduo, João Velho, fã nr. zero de Nara Leão, sempre lembra que Nara fez ressurgir vários bons sambistas, gravando Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Paquito, Anescar do Salgueiro, Casquinha da Portela e outros mais, numa época em que todos estavam esquecidos. Até por Nara nosso Wilson não foi lembrado. Quem sempre deu luz a seus sambas foi Paulinho da Viola que gravou, além da citada "Meu mundo é hoje", "Chico Brito", "Mulato Calado", "Nega Luzia", "E o 56 não veio", "Emília" e "Mundo de Zinco". 

A genial Cristina Buarque também lembrou de Wilson Baptista no seu trabalho de título "Ganha-se pouco, mas é divertido", totalmente dedicado ao sambista, cuja faixa onde está um pot-porri destaco pra você ouvir. Nela, com a ajuda de outros intérpretes, ouçamos "Louco", "Emília", "Oh seu Oscar", "Rosalina", "O Bonde de São Januário" e "Mundo de Zinco".






Rodrigo Alzuguir, sem dúvida, é o maior divulgador da obra do maestro da caixa de fósforo, por isso quero recomendar que meus leitores conheçam todos os trabalhos relacionados aos seu belíssimo Projeto "O Samba Carioca de Wilson Baptista". Além do sítio na internet (http://osambacariocadewilsonbaptista.blogspot.com.br/), ele produziu um cd duplo e um musical apresentado em diversos teatros do Rio de Janeiro, o livro "Wilson Baptista - cancioneiro comentado", uma espécie de songbook com 105 partituras de música do sambista, e ainda uma nova biografia que breve estará nas livrarias de todo o País.

Há muito ainda o que dizer sobre este extraordinário sambista. Fica pra próxima. Mas na postagem anterior, que vem logo abaixo, tem umas outras canções de Wilson, estas sim, muito pouco conhecidas do público em geral. Siga, leia e ouça.


3 comentários:

  1. Realmente a obra de Wilson Batista é para ocupar toda uma vida de pesquisador. E realmente a divina Nara Leão não gravou música dele. Avento uma hipótese. Nara começou a gravar em 1966. Wilson Batista morreu em 1968. A intenção da "ala política" da Bossa Nova, de que Nara e Carlos Lyra foram os expoentes, não era apenas relembrar a obra dos velhos compositores populares, era resgatá-los do esquecimento, gravando-os, para que eles pudessem ganhar alguma coisa e viver condignamente. A morte prematura de Wilson talvez o tenha retirado da "lista" dos gravados por Nara. Claro, é apenas uma hipótese.
    Acabo de ler um texto que diz ter sido a música "E o 56 não veio" originada de uma briga do Wilson com a namorada, Marina, que trocou o bonde habitual que tomava para não se encontrar com ele. Mas vou deixar para o Cláudio a tarefa de contá-la com mais sal.

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    1. João, muito grato pela visita e oportunidade. A Marina, que mais tarde veio a se casar com Wilson Baptista - não se esqueça do "p" mudo - morava no bairro da Saúde e pegava o bonde 56 Alegria para ir até a Central do Brasil. Todo dia o nosso Wilson esperava ela saltar pra ficar um pouco com ela. Mas quando eles brigavam, no dia seguinte ela pegava o 68, que era o São Luiz Durão, e ficava de longe vendo o bobão esperando por ela...de bom ficou o ótimo samba que na próxima postangem eu veiculo, ok? Abração e grato mais uma vez.

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    2. Opa, digitei errado o número do Bonde...era 58 o São Luiz Durão.

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