segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Samba de Breque: que parada é essa, mermão?

Há um monte de variações que podemos incluir na árvore principal do samba. Uma destas é o samba de breque, que foi imortalizado pelo cantor e compositor Moreira da Silva, o Morengueira. Ele virou a marca registrada daquele tipo de samba que dá umas paradinhas no andamento normal e introduz umas frases no vazio, nos intervalos dos versos...

"Na Subida do Morro" é um samba de breque autêntico, de autoria de Geraldo Pereira, Ribeiro Cunha e do próprio Moreira da Silva.

Para gente falar das origens, de como surgiu este tipo de samba, é preciso pesquisar muito e, ainda assim, citar algumas possíveis "verdades", sem ser categórico. O crítico musical Tárik de Souza, por exemplo, diz que o samba de breque é uma variante do picote rítmico do samba-choro. O que dá pra dizer é que a gente já encontra estas "paradas" no meio do samba até mesmo em Sinhô, na gravação de "Cansei", por Mário Reis, em 1929.





De fato era uma parada, mas ainda não dá pra dizer que fosse aquela que seria imortalizada na voz de Moreira da Silva,  pelo menos 10 anos depois. Luiz Barbosa talvez tenha sido o verdadeiro precursor como intérprete do samba "Risoleta", de Wilson  Baptista e Haroldo Lobo. Esta gravação, de 1937 sim,  na minha opinião, inicia o estilo "samba de breque". 


 Mas se o leitor me pergunta:  "que parada é essa mermão?" eu já respondo: o Samba de Breque é caracterizado por um intervalo  no acompanhamento,  acentuadamente sincopado, quando o intérprete diz alguma coisa em complemento à frase musical anterior.  Estas paradas  são chamadas breques, do inglês "break", que significa freio de carro. Os "breques" são versos  apenas falados que conferem um ar de malandragem ao samba. 

Moreira da Silva foi o grande representante do samba de breque. Entrou em algumas parcerias com Geraldo Pereira, com Wilson Baptista, mas ele mesmo confessou,  em vida, que deixou uma grana das boas pra ambos em alguns sambas, sem ter composto uma linha de criação sua sequer. Comprou a parceria. Não tiro o mérito dele nem um pouco ...foi um grande artista e deu luz a este tipo de samba. Enfim, o cara perfeito pra levar o recado, já que ele era realmente frequentador das rodas de malandragem do Rio dos anos 30. 

Foi com  o samba "O Rei do Gatilho", de Miguel Gustavo, que Moreira da Silva tornou-se Kid Morengueira


O estilo seguiu e segue até hoje e , vez por outra, outros intérpretes lançam mão de sambas de breque. Germano Mathias, sambista paulista é um deles. Jorge Veiga foi outro...até Gilberto Gil, nosso ex-ministro da Cultura, também fez samba de breque. Nei Lopes, em parceria com o saudoso João Nogueira fez "Baile no Elite", belo samba.

Até a próxima...

2 comentários:

  1. Embora nunca tenha pensado no assunto, acho a hipótese do Tarik de Souza bem plausível. É típico do choro algum dos instrumentos abandonar brevemente a linha da melodia e florear com uma exploração da escala do tom, dentro do espaço do compasso, o que implica o uso de notas de menor valor, consequentemente mais rápidas - exatamente o que acontece com a frase do sambista de breque, dita rapidinha para que as palavras caibam no tempo.
    É interessante verificar que floreados melódicos semelhantes, que não eram meras escalas mas que não chegavam a ser variações, eram regra na música barroca e, no classicismo, foram usados com mestria por Mozart; a partir de Beethoven e do Romantismo, tendem a desaparecer, pelo menos do tema em primeiro plano. Isto nos leva a pensar no curioso fenômeno da tendência a manter a tradição que existe na música popular, mesmo que ela se acredite inovadora. Não é caso da MPB, mas da música de todo o mundo (bem, pelo menos do Ocidental, visto que não sei coisa alguma da música popular oriental).
    O samba do Miguel Gustavo levou o breque ao exagero. Humorístico e inteligente, como é comum nas obras do saudoso autor, entretanto está mais para trilha sonora do que para samba de breque. Já o último samba mostrado, do Nei Lopes e João Nogueira, vai no sentido contrário, é necessariamente nostálgico para quem conheceu o Rio da época, e um tanto triste. Ainda bem que temos toda esta variedade, dentro do "breque", que já é em si uma variedade...

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  2. Caro Claudio, muito obrigado pelo post!

    Tive alguma dúvida quanto à definição proposta para o samba de breque, como um intervalo no acompanhamento, acentuadamente sincopado.

    O intervalo do acompanhamento parece que não necessariamente é sincopado, até ao contrário, costuma ser um breque na cabeça do tempo.

    Agora, a voz que entra durante o breque, essa sem dúvida sincopa!

    Abraço Cláudio!

    Rafael Rodrigues

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