quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O fenômeno Waldir Azevedo e a explicação do seu sucesso

Poucos instrumentistas e compositores de choro fizeram tanto sucesso como  Waldir Azevedo, um verdadeiro fenômeno de vendas, uma máquina de fazer clássicos do gênero. Para ajudar o leitor do blogue, registro que obras como "Brasileirinho" e "Delicado", duas das mais executadas canções brasileiras, são de sua autoria. 

A trajetória deste suburbano carioca, nascido no bairro da Piedade, é repleta de histórias interessantes, a começar pelo fato que gerou a criação de sua canção mais famosa, a já citada "Brasileirinho", cuja primeira parte pode ser inteiramente executada numa única corda do cavaquinho. Acontece que a inspiração veio da insistência do pequeno Dioclécio, primo de sua esposa que, segurando seu cavaquinho de brinquedo, pediu que Waldir tocasse qualquer coisa naquele desgastado instrumento. Nosso personagem então, tendo apenas a opção de uma corda, tocou-a, pressionando-a de lá pra cá e de cá pra lá no pequeno espaço do braço do cavaquinho. Daí lhe veio a ideia da música que, a princípio chamava-se "Um brasileirinho", em homenagem ao garoto. E foi uma de suas duas primeiras canções gravadas, em 1949.


Outro fato bem curioso foi como inciou sua carreira. Imagine que, estando ele em plena lua de mel, na cidade de Miguel Pereira no Estado do Rio, um amigo lhe telefonou avisando que , no dia seguinte, haveria um teste no famoso regional de Dilermando Reis para preencher a vaga de um cavaquinista. Nesta época Waldir era funcionário da Light, e nem tocava cavaquinho e sim violão tenor. Mas o salário oferecido ao aprovado no teste era duas vezes o valor que recebia na empresa de eletricidade do Rio e ele comunicou a sua esposa, Olinda, que eles interromperiam a viagem de núpcias por conta da necessidade do emprego. Mas ele voltou sozinho porque a recém-casada Olinda ficou aproveitando a lua de mel mesmo sem o marido. Já de volta, arranjou um cavaquinho emprestado, treinou com exaustão e no dia seguinte, desbancando experientes instrumentistas, a vaga já era sua.

O baião "Delicado" também foi uma de suas obras que mais caíram no gosto popular, tendo um sem números de gravações, mundo afora. A canção virou hit mundial e marca de vários produtos. Certa vez, excursionando pela Oriente Médio, depois de algumas apresentações e numa hora de folga, Waldir Azevedo entrou numa lojinha de souvenirs e se encantou com uma caixinha de música que tocava, nada menos que "Delicado". Com ajuda de um intérprete, ele comprou a caixinha e disse ao vendedor que aquela canção era sua. Mas o incrédulo vendedor não acreditou. Foi preciso Waldir ir ao Hotel, pegar seu cavaquinho e executar o baião na frente do vendedor que, maravilhado com a apresentação, não mais duvidou.


Delicado é realmente muito bonito e, tal qual outras lindas obras de Waldir Azevedo, como "Carioquinha", "Pedacinhos do Céu", "Vê se Gostas", "Quitandinha" e "Minhas mãos, meu cavaquinho", viraram clássicos do chorinho. Fez mais de 130 músicas em pouco mais de 30 anos de carreira, sempre com muito sucesso, interrompida por dois tristes episódios. A perda precoce da filha mais velha e um acidente caseiro que lhe decepou parte do dedo anelar da mão esquerda, mas retomadas para nossa alegria e sorte.

Segundo o mestre e escritor Henrique Cazes em seu livro "Choro, do quintal ao Municipal", o segredo de tanto sucesso prende-se, primeiramente ao pioneirismo do instrumentista Waldir Azevedo. Antes dele ninguém havia apresentado tantas possibilidades de solo no cavaquinho. Sua forma de tocar, com a mão direita inteiramente solta para dar volume ao instrumento e a utilização de cordas mais distantes dos trastes, mantinha seu padrão de sonoridade. Como compositor, Waldir tinha a genialidade de combinar a simplicidade com o dom de criar temas comunicativos. Simples assim...lindo assim...

Quem quiser saber mais sobre Waldir Azevedo deve visitar, aqui mesmo na internet, o super bem transado sítio www.waldirazevedo.com.br/ produzido por Paulo de Carvalho, um apaixonado por sua obra e a quem devemos agradecer a iniciativa. Claro, você pode também ler o citado livro do Henrique Cazes, onde vai poder encontrar muito mais sobre o gênero tão brasileiro. 

Boa leitura e até a próxima.

6 comentários:

  1. Como a polêmica entre Noel e Wilson Batista – citada na postagem anterior – houve uma certa oposição entre Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim, instigada por este último, que certamente era um mestre, mas também era um chato.
    Jacob, aborrecido porque suas músicas faziam menos sucesso público do que as de Waldir, certa vez declarou: “Não vês o Garoto? Faz música para os músicos e se dá mal. O ‘outro’ as faz para o público. Dá-se bem, mas por pouco tempo.” Este “outro” era o Waldir Azevedo. Jacob enganou-se ao falar do “pouco tempo”, uma vez que as músicas do Waldir ainda estão por aí, fazendo o mesmo sucesso. Como também as do Jacob, diga-se de passagem.
    Waldir, certa feita, argumentou: “Ele nunca arredou pé do chorinho, mesmo nos tempos das vacas magras. Tá certo que ele tinha um bom emprego e podia fazer isso. Quanto a mim, que vivia só de música, tive que me virar com outros gêneros, inclusive estrangeiros, para sobreviver.” O “ele” é o Jacob do Bandolim, que era escrevente judicial.
    Para terminar as citações com uma amenidade, e visto que o assunto é o Waldir Azevedo, aqui vai mais uma frase dele: “Gosto de ficar na praia, na sombra, tomando uma cervejinha. A barriga é boa para apoiar o cavaquinho.”

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  2. João, sua participação enriquece a postagem. E essa dica do Waldir serve pra muitos cavaquinistas que eu conheço: praia, sombra e cerveja gelada. Grato pela visita e pelo comentário.

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  3. Grato pela postagem. Como amante do choro e solista de cavaquinho, considero Waldir um dos maiores ídolos musicais. A sua genialidade era tanta que, da mesma forma que a primeira parte do Brasileirinho foi composta de improviso, conforme relatou nosso amigo Cláudio, a segunda parte também foi improvisada ao vivo, quando ele se apresentava em um programa de rádio.

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  4. Obrigado Tani. Mais um que enriquece a postagem com novidades no comentário. Voc~e viu o que o João falou sobre a barriguinha dos solistas? hahaha um super abraço irmão!E volte sempre!

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  5. Aprendi a ouvir com meu saudoso pai! Ouvíamos juntos Waldir de Azevedo e Jacob do bandolim. Sensacional essa matéria. Quando ouço sempre lembro do meu velho! Obrigado!

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    1. Muito grato pela visita. O bom gosto de seu pai o levou a apreciar estes dois citados monstros do choro. Que bom também gostou da matéria. Preciso voltar a reativar o blog e seu comentário é um incentivo. Abração

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