Quando se vai pesquisar sobre as Escolas de Sambas do Carnaval do Rio de Janeiro, suas origens e sua história, a gente descobre que há muita coisa ainda a ser discutida, uma vez que há fatos que envolvem política e interesses diversos que sempre permearam o tema. Um livro que trata do assunto de uma forma bem legal e atraente é "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro", do jornalista Sérgio Cabral, que ressalta que a obra é o resultado de mais de 30 anos de trabalho de uma história muito rica e que envolve milhares de personagens. Vou me ater ao que mais sempre me interessou nas Escolas de Samba: os sambas-enredo.
Parece que inicialmente as Escolas desfilavam cantando dois ou três sambas, sem que estes estivem ligados a algum tema ou enredo. Não havia esta obrigatoriedade até 1946, quando a entidade que regulamentava o Carnaval de então - UGES, União Geral das Escolas de Samba - proibiu que as Escolas apresentassem sambas com versos improvisados. Foi o primeiro passo rumo a este formato que conhecemos hoje, de samba-enredo. Porém, uma ou outra escola, vez por outra, apresentava já um samba, com letra única, falando de um tema específico. Considera-se, inclusive, que foi a Unidos da Tijuca quem , em 1933, apresentou o primeiro samba-enredo.
Mas o primeiro samba-enredo gravado em disco foi o lindo "Exaltação a Tiradentes", com o qual o Império Serrano desfilou em 1949. O samba é de autoria de Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado e foi gravado apenas em 1955, sem grande sucesso na época, na voz do grande Roberto Silva.
Nara Leão gravou em 1966, no seu "Nara Pede Passagem", um belo samba-enredo com o qual o Salgueiro desfilou em 1960. Chama-se "Quilombo dos Palmares", o primeiro enredo de Fernando Pamplona na vermelho e branco da Tijuca. Mas o primeiro grande sucesso de gravação de samba-enredo foi, sem dúvida, "O Mundo Encantado de Monteiro Lobato", da Mangueira de 1967, na voz de de Eliana Pittman. Acredito que este sucesso fez com que, no ano seguinte, saísse o primeiro LP que reunia os sambas-enredo das escolas de samba do Rio, do carnaval de 1968.
Nara Leão gravou em 1966, no seu "Nara Pede Passagem", um belo samba-enredo com o qual o Salgueiro desfilou em 1960. Chama-se "Quilombo dos Palmares", o primeiro enredo de Fernando Pamplona na vermelho e branco da Tijuca. Mas o primeiro grande sucesso de gravação de samba-enredo foi, sem dúvida, "O Mundo Encantado de Monteiro Lobato", da Mangueira de 1967, na voz de de Eliana Pittman. Acredito que este sucesso fez com que, no ano seguinte, saísse o primeiro LP que reunia os sambas-enredo das escolas de samba do Rio, do carnaval de 1968.
O disco foi gravado ao vivo e apresentava, entre outros , os maravilhosos sambas da Vila Isabel, "Quatro séculos de modos e costumes" de Martinho da Vila e "Sublime Pergaminho", de autoria de Carlinhos Madrugada, Zeca Melodia e Nilton Russo, da Unidos de Lucas. Embora as escolas Império da Tijuca, Independentes do Leblon e Unidos de São Carlos tenham desfilado neste ano de 68, seus sambas não constam do histórico disco.
A partir do sucesso de vendas que foi este LP, as gravadoras passaram a se interessar por reunir os sambas-enredo. Pessoalmente, passei a adquirir o disco a partir de 1971, embora eu tenha em casa o de 1969, comprado por minha esposa, muito antes de eu tê-la conhecido. Veja algumas capas dos primeiros LPs.
Quantos e tantos belos sambas-enredo fizeram enorme sucesso e são até hoje cantados em todas as rodas de samba e carnavais atuais. Sem pesquisar muito, tenho certeza que o leitor, na memória vai citar muito mais do que eu registro em minha lista:
A partir do sucesso de vendas que foi este LP, as gravadoras passaram a se interessar por reunir os sambas-enredo. Pessoalmente, passei a adquirir o disco a partir de 1971, embora eu tenha em casa o de 1969, comprado por minha esposa, muito antes de eu tê-la conhecido. Veja algumas capas dos primeiros LPs.
O Disco de 1969 |
Os sambas de 1970 |
Sambas-Enredo de 1971 |
Quantos e tantos belos sambas-enredo fizeram enorme sucesso e são até hoje cantados em todas as rodas de samba e carnavais atuais. Sem pesquisar muito, tenho certeza que o leitor, na memória vai citar muito mais do que eu registro em minha lista:
Bahia de Todos os Deuses (Salgueiro); Heróis da Liberdade (Império Serrano), Iaiá do Cais Dourado (Vila Isabel), Lendas e Mistérios da Amazônia (Portela), Lapa em Três Tempos (Portela), Ilu Ayê (Portela), Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade (Vila), Lendas do Abaeté (Mangueira), O mundo melhor de Pixinguinha (Portela), O rei da França na Ilha da Assombração (Salgueiro), A Festa do Divino (Mocidade), Sonhar com rei dá leão (Beija-Flor), O amanhã (Ilha), O que será (Ilha)...xi moçada...vou parar por aqui...sabe porque? Até aqui citei alguns gravados até o fim dos anos 70.Acredito que os anos 80 foram o de maior interesse nos discos e nos sambas-enredo....
Este era o tempo em que as alegorias, as comissões de frente, os carnavalescos eram menos importantes que os sambas-enredo. Os autores quando ganhavam os concursos "tiravam o boi da sombra", como diz o Zeca Pagodinho. A coisa mudou e a qualidade dos sambas também...
Terminemos com um que foi dos melhores sambas-enredo de todos os tempos. Do Carnaval vitorioso da Vila, no ano do centenário da Abolição da Escravatura, 1988, uma obra prima : Kizomba, a Festa da Raça. Valeu Luis Carlos da Vila!!!
Caldas
ResponderExcluirEu também tenho uma pequena coleção, só que muito mais recente e em fita k7 (será que vai precisar explicar o que é isso ?).
Como Mangueirense eu gostaria de ressaltar o Samba Enredo da Mangueira de 1955, As Quatro Estações do Ano, que tem como autores: Nelson Sargento, Jamelão e Alfredo Português. Mas compreendo que , graças a Deus, seria impossível listar aqui todos os sambas bonitos sem cometer injustiças.
Sobre Samba Enredo, certa vez eu ouvi um programa na tv que lembrava da importância das Pastorinhas nas Escolas de Samba...sabemos que todos estes sambas passam por uma competição interna na sua respectiva escola.
Antigamente quando não existiam as gravações, os sambas eram cantados ao vivo pelos seus autores e/ou intérpretes, e aqueles sambas que agradava ao gosto das Pastorinhas, por serem cantados com mais veemência por elas, tinha mais chance de "pegar" e saírem vitoriosos na quadra.
É isso ...mais uma vez , parabéns Caldas.
Paulo Malela
O samba do Sargento é dos mais belos mesmo..mas sabe que em 1955 meu Império é que levou o campeonato né.
ResponderExcluirPaulo Malela, suas contribuições enriquecem o sambabook...foi uma excelente lembrança a citação do samba do Sargento. Aliás, é outro que temos que incluir no nosso repertório né? Super abraço irmão!
Caro Caldas,
ResponderExcluirLindas lembranças de outrora....Hoje, não consigo decorar um samba enredo, de tão corrido que são os sambas. Dizem que é a tal da globalização, banalização, comercialização e outras coisitas mas...Ainda bem que temos você para nos salvar. Um abraço e parabéns mais uma vez pela iniciativa. Valeu Kbça!!!!
Junior
Júnior, meu irmão. Samba-enredo dá umas dez postagens se a gente quiser ser modesto. Vamos relembrar vários...o Paulo Malela já deu uma ideia que não me sai da cabeça, aí em cima da gente...temos que por em prática estas delícias da vida..."Quatro estações do ano" do velho sargento...
ResponderExcluirAbração e volte sempre que ajuda muito...
Quando li a citação de dois sambas da União da Ilha do Governador, achei que ele se confundira e falava do mesmo samba. Erro meu. O Cláudio me disse o ano do samba "O que será", procureio-o na Intenet e tive o prazer de relembrar um enredo muito original, que era exatamente especular sobre o que seria o enredo. A Ilha teve uma fase maravilhosa na década de 1970, com sambas como os dois citados e mais "Domingo" e "Nos confins de Vila Monte".
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