Não é fácil pra ninguém escrever sobre seus ídolos. Eu confesso um pouco de medo, oriundo do profundo respeito que tenho por este extraordinário brasileiro que, nascido Alfredo da Rocha Viana Filho, ficou conhecido por todos como Pixinguinha. É uma ousadia escrever sobre ele, ainda mais quando se tem , Graças a Deus, muita coisa espalhada por aí. Mas este é o objetivo deste blogue, lembram? Vou tentar trazer para meus leitores alguma novidade, fatos que não são tão conhecidos.
Uma de suas obras mais complexas e de difícil execução chama-se "Gargalhada". A confusão já começa no gênero, enquanto uns consideram um fox-concerto, outros nomeiam como choro. O certo é que Pixinguinha compôs Gargalhada quando já tinha passado a tocar saxofone e registrou, para Altamiro Carrilho, que tinha escrito a obra em homenagem a ele, um dos poucos capazes de executá-la. Certa vez um amigo flautista me disse que, a partir de um ponto da música, parece que duas flautas tocam ao mesmo tempo. Escutem um trecho desta interpretação do Conjunto Época de Ouro, tendo Antonio Rocha na flauta, captada numa apresentação ao vivo do grupo.
Uma das melhores histórias que envolvem Pixinguinha dá conta de que certa vez, voltando pra casa, foi abordado por um ladrão que lhe pediu, além do dinheiro e o relógio, mais a caixinha que ele carregava. Pixinguinha entregou tudo, inclusive a caxinha que era onde estava sua flauta. O bandido pediu também fósforos para acender um cigarro e a chama iluminou o rosto do assaltado, sendo logo reconhecido pelo ladrão. Sem graça, o assaltante se desculpou do infortúnio: "Desculpe seu Pixinguinha, eu conheço o senhor aqui do bairro e suas serenatas, não perco uma..."e devolveu tudo. Como estavam perto da casa de Pixinguinha, este convidou o ladrão a entrar e sentaram pra tomar umas cervejinhas juntos até de manhã.
Uma de suas primeiras composições, gravada em 1917, foi Rosa, de inúmeras novas versões e nas mais variadas vozes. O nome original desta valsa era "Evocação", mas logo ganhou o nome de Rosa, quando Otávio de Souza, um mecânico que morava no Engenho de Dentro, natural em Nova Friburgo, compôs a letra.
Pixinguinha sempre gostou de tomar "umas e outras" como diziam os cariocas de seu tempo. Nas décadas de 50 e 60, e já com uma certa idade, ainda era assíduo frequentador do Bar Gouveia, ali na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio. Chegava, sentava sempre na mesma mesa e tomava aquelas geladas, antecedidas por uma "boa calibrina". Em março de 1963, ao entrar no Gouveia comoveu-se ao ser recebido por diversos músicos que executavam "Carinhoso". Era uma homenagem do Sr. Guilherme Gouveia, dono do Bar, que oferecia ao grande mestre uma cadeira cativa. Na placa os dizeres "Ao professor Pixinguinha, a Casa Gouveia oferece a sua cadeira cativa - 30.03.1953 a 30.03.1963". Entre os músicos presentes estavam, entre tantos, Donga, João da Baiana, Luna e César Faria, com seu filho Paulo César, que depois passou a ser chamado de Paulinho da Viola.
Alfredo Neto, Pixinguinha, João da Baiana e Alfredinho do Flautim |
Outro fato interessante ligado a Pixinguinha ocorreu quando dos festejos de seus 70 anos, em 1968. Quando tudo já estava marcado e preparado para uma grande homenagem, vai que o genial Jacob do Bandolin, que também era um dos melhores pesquisadores quando o assunto era música, descobre que Pixinguinha não nascera no dia 23 de abril de 1898, como todo mundo achava, inclusive o próprio. Jacob foi até a igreja de Santana, onde Pixinguinha havia sido batizado, e constatou que o certo era 23 de abril de 1897. Mas quando ele contou pro Pixinguinha ouviu do velho e genial compositor um pedido: "Vamos guardar segredo. Já pensou a decepção para o pessoal que está prestando todas estas homenagens a mim? Museu da Imagem e do Som, Governo do Estado, Assembléia Legislativa...vixe". E assim foi feito. Mas podemos afirmar que neste ano de 2013, Pixinguinha faria 116 anos.
Altamiro Carrilho e Carlos Poyares gravaram um dos discos de que mais gosto, só com peças de Pixinguinha, em 1975. O álbum e´ "Pixinguinha de novo", bom do princípio ao fim, mas quero dividir com meus leitores a faixa "Desencanto", um maravilhoso e emocionado choro, dos meus preferidos.
Num belo sábado de fevereiro de 1973, a Banda de Ipanema tinha um desfile marcado pelas ruas de Ipanema. E neste mesmo dia, 17, Pixinguinha também tinha um compromisso em Ipanema: batizar o menino Rodrigo, filho de Euclides, um rapaz mineiro que muito foi ajudado por Pixinguinha, nos seus primeiros dias na Cidade Maravilhosa. Pixinguinha chegou cedo na Igreja de Nossa Senhora da Paz e, durante o batismo, passou mal e veio a falecer ali, dentro de um igreja, comprovando e confirmando o apelido dado por Hermínio Belo de Carvalho, um de seus parceiros: São Pixinguinha.
O livro "Pixinguinha vida e obra', do jornalista e escritor Sérgio Cabral é uma referência em biografia do mestre Pixinguinha. Foi nele, entre outras fontes, que busquei saber sobre a vida do personagem desta postagem. Sugiro que leiam e se deliciem com esta grande vida e obra.
Um abraço e até a próxima.