quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma luz sobre um grande instrumentista

Particularmente considero o período que vai do final dos anos 20 ao início dos 40, do século XX, como um dos melhores e mais exuberantes da nossa música. Por uma feliz e gloriosa coicidência, neste período aconteceram algumas coisas que contribuíram muito para a chamada "época de ouro" da música popular brasileira, em especial a chegada do rádio. 

O interesse era grande apesar das poucas unidades iniciais
Oficialmente, a primeira transmissão de rádio ocorreu no dia 7 de setembro de 1922, numa cerimônia que celebrava o centenário da independência no Rio de Janeiro, com o discurso do presidente Epitácio Pessoa e a execução da ópera "O Guarani", de Carlos Gomes. Nos anos seguintes, lideradas por Roquete Pinto, foram inauguradas diversas emissoras de rádio no Brasil. Na mesma época, desenvolveram-se também a gravação eletromagnética do som e o cinema falado. O leitor imagina o furor destas três forças, atuando concomitantemente e as suas consequências nos hábitos e cotumes, especialmente na capital da República.

Junte-se a tudo isso a necessidade de contratação de profissionais para atuar, tanto nas áreas técnicas como nas artísticas. E aí vem e acontece o melhor: aparecem talentos incontestáveis para produzir, executar e cantar as canções que surgiam aos borbotões. Surgem na década de 30 nomes como os de Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Braguinha, Assis Valente, Ismael Silva entre outros tantos compositores. Cantores tais como Mário Reis, Silvio Caldas, Almirante, Carlos Galhardo, Carmen Miranda e outras. E instrumentistas que, somados a Pixinguinha que já estava na ativa há algum tempo, ajudaram a tornar esta, a epoca de ouro. São eles o flautista Benedito Lacerda, o bandolinista Luperce Miranda, o pinanista Radamés Gnattali e o saxofonista e clarinetista Luis Americano. E é sobre este último que busquei saber mais e descobri fatos bem legais.

Luís Americano era sergipano e chegou ao Rio de Janeiro em 1921 como soldado do éxercito, onde integrava a Banda Marcial. Mas logo ao dar baixa, viu oportunidade de se juntar a outros instrumentistas e unir a necessidade de sobrevivência com o gosto pela música. Assim, participou de diversas orquestras e de gravações de algumas canções desta fase de ouro do rádio. Na célebre gravação da marchinha "Mamãe eu quero", de Jararaca e Vicente Paiva, de 1937, ele eternizou a "risada" de seu clarinete logo na introdução da mesma. Escutem, a seguir,  a gravação original da marchinha que estou no carnaval, com participação de Almirante e o próprio Jararaca nas falas iniciais, bem como o clarinete de Luis Americano.
 

Numa outra gravação histórica fez toda a introdução da primeira canção de sucesso do jovem e promissor cantor Nélson Gonçalves, em 1942, quando "deitou e rolou" no sax-alto, num fox-trote típico da época, , chamado "Renúncia", que depois viraria um samba para fazer sucesso também no carnaval. Ouça o trabalho de Luiz Americano nesta gravação original 



É bom registrar também que, em 1940, ele fez parte daquele grupo de instrumentistas selecionados por Pixinguinha, a pedido do maestro Villa-Lobos, para participar das gravações para Stokowski, famoso regente americano que visitava o Brasil. Eis a gravação de "Tocando pra você", realizada no navio Uruguai, para o álbum Native Brazilian Music, com o Luiz Americano, acompanhado pelo maravilhoso pandeiro de João da Baiana, contribuição de meu amigo e ilustre leitor, Barão do Pandeiro.


Além de exímio instrumentista, Luís Americano foi um compositor frequente do choro e da valsa, tendo inúmeras gravações de suas canções registradas, tais como "È o que há", "Saxofone porque choras" , "Luís Americano na PRE 3", "Tocando pra você", "Sossega Juca", "Intrigas no buteco do Padilha", e tantas outras...escutemos algumas.



 
                                       
                                           
                                                  
A gravadora Revivendo lançou, em 2010, 3 cds de sua obra, intitulada  "Luíz Americano - 50 anos de saudade" que podem ser encomendados  no sítio do selo

Recomendo também, para quem quiser saber mais sobre a era de ouro da nossa música e mais, muito mais, o livro "A Canção no Tempo" de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. Vai lá e lê.

6 comentários:

  1. Uma época que, realmente, mereceu ser chamada de "época de ouro" O advento rádio fez mais por nossa música popular do que o da televisão. Não por culpa dela, mais por causa do golpe militar que a pasteurizou quando ela tinha 14 aninhos. E de quebra destruiu a Rádio Nacional. É muito interessante ver como, então, a música popular instrumental tinha vez, era gravada e divulgada. Cabe aos músicos, compositores e cantores de hoje fazer voltar um tempo não igual, mas equivalente.

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    1. É uma opinião...talvez tenhya sido por isto...mas os veículos são diferentes e os tempos também. De qualquer forma o rádio foi super importante pra tudo acontecer na época de ouro. Principalemten por ser o inpicio e precisarem de tantas contratações...tivemos sorte...abração e volte sempre!

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  2. Esta história de misturar política com música popular, acredito, não procede. A vida continua e se realmente o povo gostasse de música verdadeiramente boa não aplaudiria os "sertanejos" ou
    os universitários sertanejos (o que não sei o que significa) e outros tipos de músicas que só servem para fazer barulho. Coisa sem sentido e danças com apelo sexual. Desculpe-me, mas sou um velho e não me envergonho de ser saudosista. Por este motivo, constantemente coloco em minha pagina do facebook, "retalhos" de músicas do passado. Esta mudança de gosto duvidoso de música não é só no Brsil; vide o que toca hoje pelo mundo. Um abraço de um velho de 82 anos que não sabe o que fala.

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    1. Seu Joel, mais uma vez grato pela visita. É um prazer ter uma alma de tão bom gosto pela música.
      O POvo acaba consumindo ou não o que lhe é oferecido. Acredito que o rádio oferecia, naquels tempos, a nossa melhor música. E quando eu digo nossa, não refiro-me só a brasileira.
      Um super abraço e volte sempre!

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  3. Caldas ... parabéns pelo blog da semana. Enxuto, muito bem escrito e motivante ao mesmo tempo. Acredito que um dos objetivos do blog, seja o de estimular as pessoas a procurarem mais pelos músicos destacados no texto, o que já aconteceu aqui comigo.
    Pois confesso, que apesar de ter ouvido milhares de vezes a Marchinha "Mamãe eu quero", nunca tinha despertado a atenção para os seus executantes.
    Muito ilustrativo os links colocados no texto onde o leitor tem a oportunidade de escutar as gravações das músicas citadas.
    Aguardamos o próximo.
    Paulo Malela

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    1. Paulo Malela,
      o meu modesto sambabook quer mesmo dar conhecimento aos leitores da príorpia existência de açguns geniais compositores e instrumentistas, costumeiramente esquecidos. É o caso do Luiz Americano que tem choros e valsas maravilhosas em sua obra e participou de centenas de gravações que ficsram na história.
      Grato pela visita e um forte abraço irmão!

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