Entre os grandes sambistas que completam 100 anos neste 2013 está o supersimpático Cyro Monteiro. Aquele mesmo cuja marca registrada era uma caixinha de fósforo, na qual ele fazia a batida do samba que cantava, sempre com aquele sorriso no rosto. Sua maneira de cantar era totalmente diferente dos demais cantores da era do rádio. Era um encaixe perfeito para o samba sincopado de Geraldo Pereira, de quem foi grande intérprete.
Ora vejam só com que samba ele começou a carreira, faixa gravada em 1938...
"Se acaso você chegasse", de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, ele considerava como um Hino Nacional, pois foi a partir desta gravação que as coisas começaram a acontecer de verdade pra ele. Antes, participara apenas de alguns programas de rádio e de gravações, engrossando o coro de outros intérpretes. Lembro por exemplo que também participou da gravação de "Mamãe eu quero", sucesso de carnaval de Jararaca e Vicente Paiva.
Por conta do retumbante sucesso da música de Lupicínio, gravou em seguida outro samba que também virou clássico: "Ah Seu Oscar", da dupla Ataulfo Alves e Wilson Baptista. E em pouco tempo tornava outra bela obra da mesma dupla um dos grandes sucessos do rádio: "O Bonde de São Januário". Era o cantor perfeito para este tipo de samba, bem carioca, que pede um gingado, uma malandragem na interpretação.
Pedro Caetano fez um samba-choro maravilhoso que também pedia a voz do Formigão. Era "Botões de Laranjeira" que, curiosamente, foi censurada porque citava nominalmente uma criança. Maria Madalena de Assunção Pereira na letra, virou "dos Anzóis Pereira", por sugestão do radialista César Ladeira e pode, assim, ser gravada. Ouçam esta gravação do Cyro, acompanhado do Regional de Benedicto Lacerda.
Muitos são os sambas que ficaram conhecidos em gravações feitas por Cyro Monteiro. Conhecemos hoje vários chamados "clássicos" cuja primeira gravação foi feita por este suburbano carioca, mas criado em Niterói, que só entrou pra vida artística por conta de uma necessidade. Silvio Caldas, que não é meu parente, cantava em dupla com Luis Barbosa num programa de rádio de que o Cyro não perdia uma edição. Sabia todas as canções...quando num dia faltou o Luis Barbosa, o Sílvio passou na casa do Cyro e o levou pro rádio. Deu certo...
Os sucessos foram acontecendo. "Beija-me", um sambaço do Roberto Martins e Mário Rossi, foi um estrondo em 1943. Também foi ele um dos primeiros a gravar Nélson Cavaquinho, com o samba "Apresenta-me aquela mulher". Também do mestre Nélson Cavaquinho gravaria mais tarde "Rugas". O que dizer dos sucessos de "Escurinho" e "Falsa Baiana", de Geraldo Pereira? Taí uma gravação que conta também com Jorge Veiga. Ouça :
Não podemos esquecer que Cyro Monteiro também compunha. Dias da Cruz foi um dos parceiros mais constantes e co-autor de "Madame Fulano de Tal", que eu creio tenha sido o de maior sucesso. Lembro de ele ter cantado uma vez na TV, no programa "Noite de Gala", talvez ali pelos anos 60...Mas o LP que ficou mais na minha memória foi um dele cantando sambas de Vinícius e de Baden. Agora relendo os livros, vi que o disco é de 1965. Ficamos sabendo, através deste disco, da existência de maravilhas como "Formosa", "O Astronauta", "Amei Tanto" e outros belos sambas da dupla Baden e Vinícius.
Vinícius, aliás, foi um dos seus maiores admiradores. Se o apelido "Formigão" lhe foi dado pelo compositor Eratóstenes Frazão, não se sabe bem ao certo quem o chamou pela primeira vez de "O cantor das mil e uma fãs". Mas foi Vinícius quem disse que Cyro Monteiro era um abraço em toda a humanidade, tamanha a sua camaradagem, a sua amizade com todo mundo e extrema simpatia. Mas o que tinha de simpatia, lhe faltava na coragem para viagens de avião.
Certa vez, num voo da ponte aérea Rio-São Paulo, Borjalo, que trabalhava na Rede Globo de Televisão, ouviu um resmungar, uma reza para um tal de São Andreato, proferida por Cyro Monteiro: "Meu São Andreato, protegei o comandante e toda a tripulação desta aeronave". Indagado pela aeromoça sobre que santo era aquele, ele disse: " São Andreato nasceu em Lisboa em 1402. Não é muito divulgado e, portanto, me agarro a ele, pois sendo tão desocupado tem bastante tempo pra me atender. Eu sei que São Andreatto está doido para se promover fazendo um milagre. A chance é essa."
Grande cantor, grande sambista, flamenguista como eu, torço para que o nosso Formigão tenha neste ano, quando, em 28 de maio próximo, completaria seu centenário, as merecidas homenagens e lembranças. Tem um samba maravilhoso do Wilson das Neves e do Paulo César Pinheiro que presta uma honraria bem humorada como ele era. Chama-se "Um samba pro Ciro Monteiro" e termino disponibilizando esta faixa pra você ouvir e curtir, na voz do próprio imperiano Wilson das Neves e do saudoso João Nogueira. Até a próxima!
Recebo, vai correio eletrônico, mensagem do amigo Batata, do Rio, que transcrevo:
ResponderExcluirClaudio
O Ciro era dos meus preferidos. Quando criança ouvia muito samba pois meu tio e padrinho nos anos 60 fora diretor do Bafo da Onça. Ouvi muita roda de samba nesta época. Muito Legal relembrar isto!!!
Abs
Ricardo
Bom gosto irmão. Tivemos infância e juventude musical da melhor qualidade. Cyro Monteiro é Fera e eu lamento não ter alguns discos dele mais aqui comigo, embora tenha muitos. Um super abraço e volte sempre.
ExcluirPois conheci o Ciro quando eu era adolescente.Quer dizer,ele parou no hotel do meu pai.Mas lá parava todo mundo.Lenny Andrade,Procópio Ferreira,Ankito,etc,etc,mas o Ciro marcou porque ele cantava no banheiro. E nós, garotada, ficávamos do lado de fora,no térreo do hotel ,ouvindo.Grande abraço Claudio.
ResponderExcluirImagino o quanto era legal...pôxa, uma sambista, uma voz que se ouvia no rádio, estar t]ão presente no hotel, pertinho de vcs...era mesmo pra todos curtirem...
ExcluirUm abraço e grato pela visita e comentário. Volte sempre!