quinta-feira, 14 de abril de 2016

Salve Dona Ivone Lara, rainha do samba !

No último dia 13 de abril, Dona Ivone Lara completou 95 anos. Por ser negra, mulher e sambista, por si só, já é uma dádiva ter sobrevivido com altivez até aqui. A Rainha do Samba, merecedora da reverência de ser chamada de "Dona", compôs , ainda em 1947, com apenas 26 anos, o samba "Nasci pra sofrer", com o qual a Escola de Samba Prazer da Serrinha desfilou naquele Carnaval. O leitor pode imaginar o tamanho do feito? Pois num ambiente, predominantemente masculino, uma mulher ter um samba de sua autoria, escolhido para ser o hino da Escola, o samba-enredo da agremiação, num tempo em que a mulher ainda era vista como menos capaz, é algo extraordinário. Mas aconteceu porque seu samba e sua inspiração são maiores que os preconceitos da época e, até mesmo, os dos dias em que vivemos. Mas certamente isto só foi possível por ter se casado com o filho do presidente da "Prazer da Serrinha".

Lamentavelmente não conheço este samba. Mas pra gente não deixar de ilustrar sonoramente sua genialidade, vamos ouvir um samba de sua autoria e de Délcio Carvalho, cujo título diz que ela nasceu mesmo foi pra cantar e sonhar. Um dos mais emocionantes sambas, que incluí, há anos, no meu próprio pessoal repertório. Impossível não chorar...


Dona Ivone desde cedo aprendeu a se virar sozinha. Aos seis anos já era órfã de pai e mãe e foi matriculada num colégio interno, onde ficou por 17 anos. Mas, sendo sobrinha de Tio Hélio e Mestre Fuleiro, trazia no sangue o samba  e o batuque do Morro da Serrinha, localizado em Madureira , no Rio de Janeiro. 

Aos doze anos ganhou de presente de aniversário dos tios sambistas,  um pássaro. Um tiê-sangue. Como era muito "levada da breca", os tios ameaçavam soltar o passarinho se ela não se comportasse direito...pois é...acabou acontecendo e soltaram seu tiê-sangue da gaiola.  O fato marcante inspirou nossa Diva a compor seu primeiro samba, "Tiê-tiê". Deixo para vocês um registro , de 1976, cujo som não é bom, mas vale muito como documento histórico.


Dona Ivone Lara, que conheci na quadra do meu Império Serrano, merece muito mais postagens e homenagens de minha parte e de todo o povo brasileiro. Na semana que vem , se Deus quiser, posto mais sobre sua linda trajetória. Um abraço e até lá!


quarta-feira, 23 de março de 2016

Não só um gênio das cordas, mas também um maravilhoso compositor

Tudo bem que já esteja claro que Garoto foi um dos maiores instrumentistas brasileiros. Mas, e suas composições? "Gente Humilde", parece ser a sua mais conhecida canção. Com certeza devemos esta visibilidade a Chico Buarque que, além de ter ajudado Vinícius na produção da letra, gravou a canção em 1970.

Não é habitual aqui no Brasil citar os autores das canções nas rádios. Mas acredito que "Duas contas", muitos conheçam. Só não sabiam que era de Garoto. Para relembrar o leitor, ouçamos, na interpretação de Paulo Bellinati.


Uma de suas mais belas canções e, na minha opinião, a que melhor representa a sua genialidade autoral é "Lamentos no Morro". Vamos ouvir com Raphael Rabello.


Estou entre aqueles que dizem que Garoto influenciou a bossa nova. Goroto faleceu em maio de 1955, mas ouçam, na voz de Luciana Souza, a canção "Sorriu para mim", e percebam como, muito antes do surgimento da Bossa Nova, ele já compunha uma legítima bossa nova.


Muitas outras canções de Garoto mostram sua versatilidade, seu bom gosto em harmonizar acordes e sua inspiração. Entre as minhas preferidas e que , vez por outra, toco, ao lado de meus amigos de grupos de choro, é "Tristezas de um Violão". Paulo Bellinati, que gravou várias das canções de Garoto, me ajuda novamente a mostrar a vocês esta belezura.


Quando a cidade de São Paulo completou seu quarto centenário, em 1954, comemorou com três dias de festas e solenidades. Uma marchinha ficou muito conhecida de todos, de autoria de Garoto e do acordeonista Chiquinho, em homenagem a cidade. Uma gravação de Hebe Camargo - sim ela já era uma artista conhecida nesta época - fez muito sucesso. Vou poupá-los da voz da Hebe e apresentar para vocês uma gravação de 1953, com o próprio Garoto solando no cavaquinho.


Bem, agora meus leitores e leitoras já sabem que o Garoto era mesmo bom, não só como instrumentista , mas também como autor musical.  Vejam o que pensam algumas grandes figuras sobre ele: 

"Garoto é um camarada esperto, ele sabe fazer aqueles encadeamentos, ele acompanha de uma forma que fica mais bonita”. João Gilberto.

“Não havia um instrumento de corda que ele [Garoto] não dominasse à primeira vista. Dizia-se que, numa única canção, Garoto era capaz de alternar violão, guitarra, violão-tenor e cavaquinho, passando de um para o outro sem perder um compasso — e esta não era uma daqueles lendas que os músicos gostam de contar, porque ele costumava fazer isto no auditório da Rádio Nacional”. Depois de chamá-lo de “superviolonista”. Ruy Castro, no livro "Chega de Saudade".

“Cantar com Garoto era o máximo que uma pessoa podia querer”. Silvinha Telles.

“Garoto tinha uma concepção musical diferente, acima da média de seus contemporâneos, bastando esta melodia [“Duas Contas”], com seus saltos inusitados, para comprovar este ponto de vista”. Jairo Severiano, no livro "A Canção no Tempo".

"Incluo Garoto entre os pioneiros da Bossa Nova. Toquei com ele no Clube do Cinema. Nesse dia, ele compôs uma música na hora e denominou-a ‘Noite maravilhosa’”. Garoto foi peça importante. Conheci muito o Garoto, muitíssimo. Gravei muito com o Garoto ao violão. Era considerado o maior violonista brasileiro, foi aos Estados Unidos. (...) Gosto muito das coisas dele”. Tom Jobim

"Quando comecei a estudar violão eu ouvia muita coisa do Garoto. Marcou muito em mim e, afinal, me deixou um estilo também. Em sua época o violão era meio quadrado. Foi ele quem criou esta escola de violão moderno brasileiro, que tocamos hoje. Baden Powell.

E vocês? O que acharam das canções do nosso Anibal Sardinha? Conte pra mim. Fique à vontade para comentar , seguir o blogue e mostrar a seus amigos e amigas. Assim, fazemos a defesa e divulgação do bom choro e do bom samba. Um abraço e até a próxima.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Garoto rouba a cena nos States

Em 1939, Garoto já era suficientemente conhecido e admirado por sua extrema capacidade de tocar, muito bem, diversos instrumentos de corda. Onde se apresentava e, principalmente, para quem ele acompanhava nas rádios e gravações, impressionava sobremaneira. Suas composições e arranjos feitos para o mundo do disco e do rádio, faziam com que todo artista, cantor ou instrumentista, desejasse contar com sua genialidade.

Neste mesmo ano, a cantora Carmen Miranda, após uma apresentação no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, recebeu convite do empresário norte-americano Lee Schubert para atuar nos Estados Unidos. Chamou-a para jantar e fez a proposta. Na conversa e nos detalhes, Carmen percebeu que seu desejo de levar o Bando da Lua, o conjunto regional que a acompanhava sempre, liderado por Aloísio de Oliveira, não estava, digamos, "no pacote". Já li, em algumas publicações, que o empresário considerou fraco o grupo e chegou a procurar outros músicos, mesmo no Rio, que pudessem acompanhar a cantora em terras estadunidenses. Carmen, de cara, recusou. Como ir sem o pessoal que a acompanhava há 5 anos? 

Mas a época era a da "política da boa vizinhança", projeto do Presidente norte-americano Roosevelt, para impedir a influência europeia na América Latina e garantir a liderança yankee por cá. Creio que, por conta disto, o governo Getúlio Vargas resolveu bancar as despesas de passagens e hospedagens do Bando da Lua, com a desculpa de que todos iriam se apresentar no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York. E o empresário, que não queria o Bando da Lua, teve que engolir o pacote. Assim Carmen e seu conjunto foram para Nova York, onde ficaram por longo tempo, se apresentando, estrelando filmes, comparecendo a programas de rádio e boates, numa frenética e cansativa jornada.

Em cinco meses de estada em Nova York, Ivo Astolfi, violonista do Bando da Lua, comunicou que estaria de volta ao Brasil, abandonando seu posto. Em seguida, Garoto recebia o telegrama de Carmen: "Queridíssimo Garoto, espero que você tenha gostado da ideia de vir para cá e aceite-a, pois esta terra é a melhor do mundo, só estando aqui é que acreditará. Estamos ansiosos que você venha, eu e os rapazes. Abraços da Carmen".

Carmen fez o convite e garantiu que, no mínimo, o ganho dele seria de 200 dólares semanais. Entusiasmado, nosso Garoto interrompeu o trabalho de muito sucesso que fazia no Duo do Ritmo Sincopado, ao lado de Laurindo de Almeida, e partiu. Em 30 de outubro chegou a Nova York, a tempo de participar da apresentação de Carmen e o Bando da Lua, na tal Feira Mundial de Nova York. E antes que o ano findasse, ainda gravaram três discos, pela Decca, de imenso sucesso. Entre as canções estavam: "South American Way"; "Touradas em Madri"; "O que é que a baiana tem?"; "Mamãe eu quero" e "Bambu, bambu".

O Grupo também participou do filme "Down Argentine Way". Olha o nosso Garoto aí na telona gente!...



Garoto estava num mundo novo. O sucesso da Pequena Notável e seu grupo era uma realidade. Logo o grupo fez uma excursão, onde Garoto pode conhecer Chicago, Detroit, Pitsburgh, Saint Louis, Filadélfia e Washington, na qual também foram convidados para uma recepção na Casa Branca. Foram também ao Canadá, o que impressionou Garoto, deslumbrado que ficou com as nevadas de Toronto e as cataratas de Niágara. Nestas viagens interagiu com grandes artistas do jazz como Duke Ellington e Art Tatum.




Em julho do ano seguinte, o grupo ganhou férias e veio ao Brasil. Ao chegarem, Garoto concedeu entrevista a Fernando Lobo, contando as maravilhas da estada nas terras do Tio San, e como agradou por lá, ganhando o apelido de "O Homem dos dedos de ouro". Tinha ele apenas 25 anos. Imaginem. Contou também que conheceu um pianista norte-americano que possuía um um órgão elétrico e que ensinou o músico a tocar "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. Extasiava-se ao ouvir a canção brasileira tocada naquele instrumento. Contou também que trouxe o que havia de mais moderno, em termos de captação de cordas:  um tal co-reckt.

Em outubro Carmen e o Bando da Lua retornaram aos Estados Unidos. Porém, Garoto decidiu não se juntar a eles. Ao que parece, não concordou com o contrato oferecido, que não permitia voos solos, o que inviabilizava seu sonho de se desprender, vez por outra, de Carmen e mostrar seu talento em apresentações próprias. Melou. Não foi. Ficou frustrado em seu sonho. Ainda mais depois de conhecer a estrutura profissional oferecida por lá, bem superior à do Brasil.

Era isso...Ainda falta mostrar pra vocês muita coisa sobre este genial Garoto. Mas fica para a próxima. Um abraço.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Mas, afinal, quem é este Garoto?

O Garoto a que me refiro chama-se Aníbal Augusto Sardinha. Um paulista nascido em 1915, filho de portugueses, criado numa família super musical, entre pai, tios e irmãos, vários instrumentistas, o que despertou, desde muito cedo, a paixão pelos instrumentos de corda. Logo na infância, estudou música e se apaixonou pela obra de Ernesto Nazareth. Jorge Mello, autor do livro "Gente Humilde, Vida e música de Garoto", conta que , ainda muito menino, numa aula de religião, o seu professor falou pra turma: "Houve um homem, extraordinariamente dotado, que foi enviado por Deus à Terra! Logo ficou conhecido como Jesus de Nazaré".  O professor, vendo que Garoto estava em outro mundo, sem prestar atenção no que ele dizia, perguntou: Aníbal, qual foi o homem extraordinariamente dotado que Deus enviou a Terra?" E Garoto respondeu de pronto: "Foi Ernesto Nazareth."

Com apenas 11 anos, Garoto apareceu no cenário musical tocando banjo e violão num regional. E já no ano seguinte integraria o conjunto de seu irmão Inocêncio, o Conjunto dos Sócios, que apresentava peças de jazz, onde já era chamado de "Moleque do Banjo". Em 1928 participa das apresentações musicais do Salão do Automóvel, promovido pela General Motors, convidado por Canhoto, considerado o mais importante músico paulista da época. Desde então não parou mais de integrar diversos grupos musicais e com o conjunto "Verde-Amarelo", ao lado de Paraguaçu, participa de sua primeira gravação em disco, sob a direção do maestro Francisco Mignone. São os maxixes "Bichinho de Queijo" e "Driblando", ambos de sua autoria, onde faz os solos no banjo. Que menino precoce!

Garoto não tinha mais tempo pra nada e fez suas primeiras excursões com os grupos musicais pelo interior de São Paulo, onde se apresentava não só no banjo. Assim, ia se tornando um multi-instrumentista. Em pouco tempo já tocava, além do banjo que lhe valeu o apelido de "Garoto do Banjo", violão, cavaquinho e bandolim.

Em 1931 começou a atuar em rádios, iniciando pela Educadora Paulista, e passando para a Rádio Cosmos, convidado que foi por Jaime Redondo, para integrar o Regional da emissora que contava também com Aimoré, Atílio, Pingo e Petit. Foi nesta época, que mudou seu apelido, passando a ser conhecido artisticamente como Garoto. Em 1934, com apenas 14 anos, compôs o choro  "Quinze de Julho". Vamos ouvir? Poly é quem o interpreta neste vídeo que achei.


Nesta fase das rádios em São Paulo, passou a ser conhecido de muitos cantores e artistas, que se espantavam com sua versatilidade e excelência na execução de tantos instrumentos. Daí para os discos foi um pulo. Todos queriam Garoto acompanhando e fazendo solos em suas gravações, pelo capricho e criatividade nos arranjos e impecável execução. 

Em 1936, um grupo de artistas que atuava no Rio, foi a São Paulo para uma apresentação no Teatro Santanna. Eram grandes e já conhecidos nomes do rádio carioca.  Silvio Caldas, Nonô, Luís Barbosa e Araci de Almeida. No ensaio, entre os instrumentistas que iriam acompanhar os astros, estava Garoto, ao lado daquele monte de instrumentos e Silvio Caldas comentou com um outro amigo: "Será que ele toca isto tudo?". Provocado, Garoto foi começando a solar várias peças, primeiro no cavaquinho, depois no bandolim e na guitarra havaiana. Finalizou com o violão tenor, impressionando a todos os presentes que não o conheciam ainda. E assim, Garoto e Aimoré foram convidados a integrar o grupo carioca que depois se apresentou em Santos. Da apresentação, surgiu o convite para irem ao Rio fazer uns trabalhos na Rádio Mayrink Veiga. Este degrau impulsionou de vez a carreira de Garoto, que logo gravou, como solista, de sua autoria, "Dolente", atuando na guitarra havaiana. Ouçamos a gravação original, de 1936.


A temporada no Rio durou meses, sempre atuando na Rádio Mayrink Veiga e participando de toda a programação musical da emissora. Lá conheceu Laurindo de Almeida e Gastão Bueno Lobo, segundo Pixinguinha, o introdutor do Banjo no Brasil. Este tempo no Rio rendeu a Garoto muitos contatos e chamadas para se apresentar e para participar de gravações.

De volta a São Paulo, nosso gênio das cordas foi contratado pela Rádio Cruzeiro do Sul, cuja direção musical estava entregue ao maestro Gaó, um excelente arranjador que montou, para a emissora, a Orquestra Columbia, onde Garoto atuou. Nela Garoto era o responsável por tocar todos os instrumentos de corda, inclusive violino, aumentando ainda mais o leque de instrumentos que dominava.

Ainda morando em São Paulo, participou das gravações de vários sambas cantados por Moreira da Silva, pela gravadora Colúmbia, como  "Não sou mais aquele" e "Meu sofrimento". Começou, neste mesmo ano de 1938, a formar um duo com Laurindo de Almeida, que tocava o violão de seis cordas e com Garoto no violão tenor, já um modelo dinâmico, fabricado pela conceituada Del Vecchio. Com Laurindo também acompanhou Carmen Miranda na gravação de "Mulato antimetropolitano" e "Você nasceu pra ser grã-fina". Os chamados para as gravações se sucederam. Gravou com Jararaca e participou das históricas gravações de sucesso de Ary Barroso, tais como " Sem ela", Tabuleiro da Baiana", "Na baixa do Sapateiro" e "Boneca de piche"...nosso Garoto estava em todas. 

Difícil entender como um instrumentista desta envergadura não tenha um reconhecimento como um dos maiores que já tivemos. Hoje é raro ouvirmos falar dele. E como compositor ele é, a meu ver, ainda mais  importante. Suas canções foram as primeiras a utilizar harmonias com acordes dissonantes, tão precisas, lindas e tão adequadamente colocadas, que não tenho dúvida em registrar que inspirou a bossa nova.

Sobre Garoto ainda há muito o que dizer. Garoto não cabe numa só postagem. Na semana que vem vou contar mais sobre ele, e de como ele foi parar nos Estados Unidos, integrando o Bando da Lua, que acompanhou Carmen Miranda por lá.

Um abraço e até a próxima. Fique à vontade para comentar.



sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Garoto que pouca gente conhece

Considero uma das maiores injustiças da nossa história musical, o quase que total desconhecimento sobre a importância de Aníbal Augusto Sardinha, conhecido no meio artístico como Garoto. É mesmo estranho que a maioria das pessoas desconheça o grande instrumentista e inspiradíssimo compositor que foi Garoto.

No final de 2015, fiquei sabendo que o cineasta Rafael Veríssimo estava produzindo o documentário "Garoto, o Gênio das cordas", em comemoração ao centenário de Garoto, nascido em 28 de junho de 1915. O filme vai mostrar como o violonista trocou figurinhas com o Jazz, por ocasião da viagem feita aos Estados Unidos, para acompanhar a cantora Carmen Miranda, e com o impressionismo francês de Dubussy, para mais tarde trocar influências com o pianista, arranjador e compositor Radamés Gnatalli. 

Quem assina a pesquisa para o documentário é Lucas Nobile, responsável também pela produção musical, que colheu depoimentos inéditos de Carlos Lira, Dori Caymi, Guinha, Hamilton de Holanda, Henrique Cazes, João Donato, Joel do Nascimento e Paulinho da Viola, entre outros, todos unânimes em considerar Garoto, realmente , um Gênio da Cordas.

Desde de que fiquei sabendo do documentário, tentei contato com o pessoal da produção para saber quando seria lançado o filme. Há pouco tempo responderam a um contato meu, informando que "apesar de várias imagens já terem sido captadas com nossos esforços pessoais, o fato é que precisamos de patrocinadores para continuar a produção.
Para que atinjamos uma obra à altura de Garoto, é preciso remunerar muita gente. Além de músicos e outros participantes que aparecerão nas telas, existe toda uma equipe que vai de câmeras, roteiristas, produtores, técnicos de som, editores, finalizadores, pesquisadores, artistas gráficos. É preciso pagar direitos. Materiais de arquivo. Viagens. Hospedagens. Muita coisa. Mesmo.
O filme já está aprovado na Ancine (Lei Rouanet) para captação e em breve também estará no ProAC".

Fica aqui minha torcida para que consigam os recursos necessários para a finalização e o imediato lançamento do documentário, que poderá fazer mais justiça ao Gênio das Cordas, também um excelente compositor. Por hora, deixo para vocês, o teaser do filme, e prometo falar mais sobre Garoto nas próximas postagens.


"Gente Humilde", uma antiga composição de Garoto, teria surgido durante uma visita dele a um subúrbio carioca. De repente, ao observar aquelas pessoas e suas casas modestas, ele resolveu homenageá-las numa melodia. Tempos depois, o professor mineiro Valter Souto, gravou num acetado, registro que asseguraria a sobrevivência da composição, mantida inédita em disco comercial. Finalmente, quase quinze anos após a morte de Garoto, Baden Powell mostrou-a Vinícius e "Gente Humilde" ganhou letra de Chico e Vinícius. Obrigado por mais esta Baden!


Era isso. Acompanhe e comente. Semana que vem tem mais Garoto. Um artista muito maior que a belíssima canção "Gente Humilde". 



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Que bom: Samba e Choro é coisa de preto sim!

O volumoso tráfico de negros, trazidos da África durante séculos, para o trabalho escravo no Brasil, tem sido objeto de muitos estudos e publicações, levando em consideração os mais diversos aspectos. Nesta semana, empreendi um tempo grande em leituras sobre as origens destes negros trazidos para as diversas regiões do Brasil, para trazer pra vocês um pouco deste conhecimento. E quero hoje registrar algumas percepções que se relacionam com o samba e o choro.

Podemos afirmar que os negros trazidos da África eram originários de dois grupos distintos, não só geograficamente falando, mas também referindo-nos a seus hábitos, cultura e religião: os Bantus e os Sudaneses ou oeste-africanos. Igualmente interessante observar, além da origem de onde vieram, para onde foram levados. Vejamos um mapa que separei para o leitor com estes registros:



Os Bantus vieram das regiões que se estendiam desde a costa atlântica africana, de países como Angola, até o Congo e Moçambique e foram levados aos portos do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Já os Sudaneses eram originários da Guiné, Costa do Marfim, Benin, Togo, Gana e Nigéria, e foram trazidos em massa para a Bahia. Esta origem, e as diferenças entre as culturas, explica muito, em minha opinião, porque a Bahia e o Rio de Janeiro são tão distintos, no que tange a religiosidade praticada em uma e outra cidade. E é, justo neste ponto, que acabam oferecendo influências diferenciadas para as manifestações musicais dos dias de hoje. E até mesmo explica como surgiram, no Rio, o samba e o choro.

A grosso modo, podemos dizer que o povo vindo de Guiné e região são de cultura religiosa Iorubá. São povos monoteístas de língua nagô, que cultuam o Deus Olorum, e têm os orixás como secundários. O Candomblé, muito presente na Bahia, é um belo exemplo desta unicidade religiosa.

Os Bantos já apresentam outras características. Não falavam uma única língua e sim várias aparentadas e não possuíam uma religiosidade bem unificada, sendo dados a sincretismos com outras manifestações. No Rio, em contato com o catolicismo e o espiritismo,  gerou o que conhecemos como Umbanda.

Na passagem do século XIX para o XX, em seguida à Abolição da Escravatura e também da decadência da cultura do café, na região do Vale do Paraíba, um grande contingente de negros bantos se desloca das fazendas para o Rio de Janeiro, visto que lá já não tinham meios de sobrevivência, como ex-escravos e sem trabalho para o sustento. Vinham mesmo a pé, seguindo a estrada de ferro que ligava o Rio a São Paulo, e acabaram por ficar nos bairros de subúrbio carioca, especialmente em Madureira e região. Eram negros de formação rural, bem diferentes dos Iorubás mais urbanos da Bahia.

Cerca de 30 anos antes, chegaram ao Rio também os negros de origem Iorubá, vindos da Bahia. Mas estes vieram de navio, instalando-se na região central da cidade, onde ficava o porto e logradouros próximos. Diferentemente dos bantos das fazendas de café, os iorubás já constituíam uma espécie de classe média em Salvador, e alguns de seus descendentes tinham acesso a livros e ao estudo regular.

Note o leitor, assim como eu percebi, uma diferença de preparo entre os negros que vieram da Bahia e se instalaram na Cidade Nova e os que migraram das fazendas paulistas e se fixaram nos morros suburbanos do Rio. Também o Rio do Centro, essencialmente urbano, era bem diferente do subúrbio, quase uma zona rural, à época. Enquanto os bantos se misturavam aos cariocas rurais, os iorubás abriam seus pequenos comércios ou se empregavam no poder público como nos Correios ou na Guarda Nacional. Alfredo da Rocha Viana, pai de Pixinguinha, um destes baianos , era funcionário da Repartição Geral de Correios e Telégrafos, e Hilária Baptista de Almeida, a famosa tia Ciata, tinha um pequeno comércio no ramo de alimentação que empregava mais que uma dezena de pessoas. Seu marido, João Batista da Silva, que tinha cursado medicina em Salvador, sem ter concluído contudo, era funcionário da Delegacia de Polícia.

Enquanto estes baianos iorubás mantinham seu culto religioso em suas casas, seguindo no Candomblé, os  negros bantos iam misturando santos do catolicismo e dogmas do espiritismo,  nos terreiros de umbanda do subúrbio. Embora para maioria da população branca do Rio tudo fosse "macumba" e coisa de preto. 

Musicalmente, os baianos se inseriram logo no carnaval carioca dos Ranchos, já que eram iniciados em teoria musical e dominavam instrumentos de sopro e corda, liam partituras e executavam polcas, lundus e maxixes com facilidade e excelência na execução. Entre eles, surgiu Pixinguinha, o gênio da raça, que por sua genialidade e beleza de suas composições, ganhou penetração na sociedade carioca e criou o chorinho, a expressão maior da nossa música instrumental.

Um pouco mais tarde, em meados da década de 1920, os bantos começam a aparecer no cenário musical também. Estes, não sendo iniciados em teoria musical, faziam seus batuques nos morros periféricos dos subúrbios do Rio, se organizaram em grupos de percursionistas, introduzindo aqui e ali, cada vez mais novos elementos de ritmo, que acabaram por formar os blocos carnavalescos que deram origem às escolas de samba. Entre seus líderes, Mano Elói, Carlos Cachaça e Carola, na Mangueira, e Paulo Benjamin de Oliveira, que embora nascido no centro em 1901, mudou-se para Oswaldo Cruz, bairro próximo a Madureira, ainda jovem, e formou o bloco  Baianinhas, que deu origem a Portela. 

No início da década de 1930 já existiam três dezenas de Escolas de Samba nos subúrbios da Central do Brasil. E os cantores do rádio, que começa a ganhar espaço, buscaram conhecer a novidade nos morros, e gravam as composições dos artistas bantos, que acabaram por fixar o samba como uma das maiores expressões da nossa música. 

Tudo isto explica as diferenças entre as manifestações musicais do Rio e Janeiro e da Bahia. Um é choro e samba, o outro é batuque e axé. Um é roda de samba e choro, o outro é trio elétrico, Filhos de Gandhi e Olodum. O que importa mesmo é que tudo isso é coisa de preto.

Para saber mais sobre o assunto e muito mais, recomendo a leitura do excelente livro da professora Marília Trindade Barboza, de quem tenho orgulho de ter contato vez por outra, chamado "Coisa de Preto". Ela é também autora de várias obras biográficas como as de Silas de Oliveira, Paulo da Portela e Cartola, essenciais em minha estante.

Gostou? Então inscreva-se no blog, siga-o e fique à vontade para comentar. Este é o combustível e a motivação para seguir dando luz ao samba e ao choro, missão maior deste espaço. Um abraço e até a próxima.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O esquecido Gradim merece estar aqui

Uma das tarefas deste espaço é dar luz a importantes personagens do nosso samba. Em muitas pesquisas e leituras que faço sobre alguns destes craques, as dificuldades são imensas. Na última postagem, citei dois esquecidos compositores, sobre os quais se tem pouca notícia, mesmo relendo livros que, para mim, são referências no assunto,  como os de Ary Vasconcelos (Panorama da Música Popular Brasileira) e o Dicionário da Música Popular Brasileira, de Ricardo Cravo Alvim. Hoje quero dar alguma luz a Gradim, sugestão feita por um assíduo leitor, em seus comentários.

Muito pouco encontrei sobre a vida de Gradim, cujo nome é Lauro dos Santos. Mas graças a suas composições e parcerias com Noel Rosa, Ismael Silva e outros, há registros de belos sambas, gravados no inicio da história do samba.

Sua primeira canção gravada foi "Vem, meu bem", na voz de Benício Barbosa, pelo selo Odeon, em 1928. Ainda identificado como Lauro dos Santos, teve a ventura de ser gravado por Francisco Alves e Mário Reis, dois dos maiores cantores da época, que registraram "Quá, quá, quá", em dezembro de 1930.

A dupla voltaria a gravar Gradim, em 1931, pela Odeon, através do samba "Nem assim", todos de sua exclusiva autoria, sem participação de parceiro. Temos a letra de "Nem Assim":

Ai minha vida
Oh Deus tenha pena de mim
Deixei a maldita malandragem
Para ver se endireitava
Mas nem assim

Para ver se endireitava
Eu deixei a malandragem
De que não adiantava
Nunca mais levei vantagem
Vou voltar a vida antiga
Pra voltar a ser feliz
Do contrário Deus castiga
Foi no samba que eu me fiz

Ai minha vida
Oh Deus tenha pena de mim
Deixei a maldita malandragem
Para ver se endireitava
Mas nem assim

No samba foi que eu nascí
Nele tenho que morrer
Porque isso eu já vi
Que é o meu maior prazer
Quem achar que não está bem
Pode até falar de mim
Não vou atrás de ninguém
Hei dei viver sempre assim

Gradim era mais um dos frequentadores dos bares do Estácio e conviveu com Ismael e aquela turma incrível e criativa que deu a roupagem definitiva ao samba que hoje conhecemos.

Participante também do bloco dos Arengueiros, que deu origem a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, Gradim foi da primeira geração de compositores da agremiação, ao lado de Cartola, Carlos Cachaça, Zé com Fome, o depois chamado Zé da Zilda, e outros. Integrou também a comissão de bateria, no primeiro e vitorioso concurso de 1932, ao lado de Maciste, Martins, Ismar e Lúcio. Seu nome sempre é citado como o responsável pela entrada de Jamelão, o mais famoso intérprete de sambas da Mangueira, na Escola.

Com Noel Rosa compôs "Quero Falar com Você", gravado em 1933, na voz do cantor João Petra de Barros.




Outro samba bem bacana incluí Ismael Silva e Noel Rosa na parceria com Gradim. É "Sempre Sorrindo", gravado também por João Petra e que integra a coleção "Noel Pela Primeira Vez", que, Graças Deus, tenho aqui comigo. 


Não sabemos outros dados de Gradim. Nada. Onde nasceu, em que ano e nem quando morreu. Achei referência de que foi um bom jogador de futebol, tendo atuado ao lado de Leônidas da Silva, o famoso craque da seleção, criador da bicicleta. Como muitos de sua época, Gradim faleceu vítima de tuberculose.

Outros sambas de Gradim são: "Samba na Mangueira", "Não se faz de inocente", e "Alegria", famosa na voz de Cartola, mas poucas vezes citada como parceria com nosso Gradim.


É isso aí... por esta é só. Vamos ver se acho alguma coisa sobre seu amigo Maciste. 

Um abraço e até a próxima. Fique à vontade para comentar e sugerir pautas pra mim...motiva-me muito. 





sábado, 30 de janeiro de 2016

Os desfiles das Escolas de Samba: Como tudo começou

Para muitos, o desfile das Escolas de Sambas do Rio de Janeiro é o maior espetáculo do planeta. Mas o leitor sabe como este concurso começou? 

O desenhista e compositor Antônio Nássara, em entrevista concedida a José Guilherme Mendes, da Revista "Ele e Ela", edição de janeiro de 1976,  nos ajudou: "Na época, eu era paginador do Jornal  Mundo Esportivo, dirigido por Mário Filho. Naquele tempo, praticamente, só existia futebol e remo. Eram só essas duas atividades para um jornal especializado. Quando terminava o campeonato, o jornal ficava três, quatro meses sem muito o que noticiar. Foi então que um repórter teve uma ideia genial. Foi Carlos Pimentel, um camarada altamente conhecedor dos assuntos e fatos da cidade do Rio de Janeiro, estava por dentro deste negócio de samba das escolas. Então, Mário Filho, que era um homem de enorme visão, encomendou a Pimentel entrevistas com o pessoal das Escolas de Samba. Na época, compositores como Noel, Almirante e Sinhô já eram conhecidos, mas outras figuras como Cartola, Gradim e Maciste, não. Estes últimos eram inéditos. Quem os conhecia era o Pimentel, que frequentava o Estácio, o Rio Comprido, para saber das novidades. E deu um estalo no Mário Filho: 'Pimentel, e se em vez de entrevistas, a gente fizer uma disputa entre eles?'. Naquele momento, nascia o concurso de escolas de samba".

Mário Filho pediu a Pimentel que "bolasse" uma espécie de regulamento e este escolheu os quesitos e a pontuação a serem avaliados. Assim, evolução, Porta-bandeira, bateria, harmonia e outros foram criados. O Jornal bancou um coreto na Praça Onze, sanduíches de mortadela, cerveja e salgadinhos para atrair uns julgadores. Nássara citou alguns membros deste júri que lembrou: Álvaro Moreira e sua esposa, bem como Orestes Barbosa. Pesquisando, descobrimos mais alguns destes jurados: José Lira, Fernando Costa, Raymundo Magalhães Júnior e J. Reis.

Como o rádio ainda engatinhava, os jornais eram os maiores divulgadores dos sambistas e fez com que , rapidamente, o samba criado pelo pessoal do Estácio se espalhasse por todo o Rio de Janeiro. Era o ano de 1932 e assim foi criado o Concurso de Escolas de Samba. Na oportunidade o resultado foi o seguinte:

Campeã: Estação Primeira de Mangueira
Vice- Campeãs: Segunda Linha do Estácio e Vai Como Pode
Terceira Colocada: Unidos da Tijuca

Muitas outras escolas participaram deste primeiro certame, mas , como não foram premiadas, não foram divulgadas...

É isto... um abração e até breve. 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Vamos falar de Maxixe?

Falar do maxixe é tarefa um pouco complexa. Mas, instigado por alguns dos meus leitores, pus-me a recolher, aqui e ali, vídeos, textos e capítulos da minha pequena biblioteca sobre o tema. Mas como diz um dos amigos e leitores frequentes, é sempre uma diversão. Mais que diversão, já disse aqui mesmo no blogue, tenho como missão dar luz a estas histórias do choro e do samba e motivar meus leitores ao conhecimento. E o maxixe tem muita ligação com o samba. Vejamos.

Para começar, registro algumas definições. O conhecido pesquisador José Ramos Tinhorão, por exemplo, diz que o maxixe desenvolveu-se a partir do momento em que a polca, gênero musical de origem europeia e tocado nos salões da corte imperial e da alta classe média carioca, sempre ao piano, passou a ser tocada por músicos populares chamados de chorões, com a utilização de flauta, violão e oficlide, que costumavam animar festas em casas populares, em meio a valsas e mazurcas. Já Renato de Almeida, autor do livro "História da Música Popular Brasileira, sugere que o maxixe seria "uma adaptação de elementos que se fixaram num tipo novo de dança popular, com uma coreografia cheia de movimentos requebrados e violentos, muitos deles tomados de empréstimo ao batuque e ao lundu". Para Mário de Andrade, que também muito pesquisou sobre as primeiras manifestações musicais brasileiras, o maxixe teria nascido a partir da fusão do tango brasileiro e da habaneira, com a rítmica da polca, tendo ainda uma adaptação da síncope afro-lusitana.

Por estes registros, podemos afirmar que o maxixe surgiu da mistura de diversos ritmos e que ganhou notoriedade no seio popular, como uma dança, nas festas do pessoal que residia na Cidade Nova, e nos salões dos cabarés do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Creio que a polca virou maxixe, via lundu, dançado e cantado, tocado pelo pessoal dos primórdios do choro, caindo nas graças, inicialmente dos dançarinos das festas da Cidade Nova para, em seguida, espalhar-se pelas demais classes de todo o Rio de Janeiro.

Ao que parece,  a primeira apresentação do maxixe em palcos de teatro da cidade do Rio de Janeiro ocorreu em 1883, quando o ator Francisco Correia Vasques apresentou o espetáculo "Aí, Caradura!", cuja maior atração eram os trechos cantados e dançados de maxixes. E a moda pegou...daí então, alguns compositores passaram a produzir um tipo de música própria para o gosto de quem desejava dançar aquele ritmo, com letras descontraídas. 


Jocotó de Roque  V. Vieira




Jairo Severiano registra que o maxixe começou como dança. Jota Efegê, autor do livro "Maxixe: a dança excomungada", realizou talvez a maior pesquisa em jornais e revistas da época, desde 1870 para nos ajudar a entender como esta dança se tornou um gênero musical de sucesso estrondoso, e não só no Brasil. De início, os requebros sensuais e as coreografias eram dançadas ao som das habaneras e das polcas. Aos poucos os músicos submeteram estes ritmos a uma intensa sincopação,  que acabou por transformá-los no maxixe, como gênero musical. Em 1883, num chamamento para um baile do famoso Clube Democráticos, era assim anunciado: "Cessa tudo quanto a musa antiga canta  / Que no Castelo este brado se levanta / Caia tudo no maxixe, na folgança / Que com isso dareis gosto a Sancho-Pança". Castelo era o apelido do clube e Sancho-Pança o de seu secretário.

O maxixe então já "bombava" nos teatros do Rio na virada do século  XIX para o século XX,  e também começou a fazer sucesso na Europa, levado pelo baiano Antônio Lopes de Amorim Diniz, mais conhecido por "Duque", que era dentista no Brasil e virou dançarino em Paris, meio que por acaso. Um dia saiu na noite parisiense para se divertir com a atriz Maria Lino, que visitava a cidade e, já conhecedores do maxixe, dançaram primorosamente tudo que tocava com os passos do maxixe. O sucesso foi tanto que ele abriu uma escola de dança e ficou por lá ensinando. Os rudes passos levados pelo pessoal da Cidade Nova agora eram estilizados por Duque que levou o maxixe aos grandes e elegantes salões parisienses.

Em 1924, Romeu Silva fez sucesso com o maxixe "Fubá", de sua autoria, composto a partir de motivo popular, registrado como samba, mas era maxixe puro.

Nesse ano, atestando o sucesso popular do maxixe, o Jornal do Brasil publicava a seguinte nota:
"O maxixe - As pessoas habituadas a freqüentar festas sabem que há um verdadeiro delírio em certas danças contemporâneas. Aquela medida polida, aquela graça requintada, dos antigos passos, está irremediavelmente perdida. Hoje, tudo é delírio, é frenesi. No mundo inteiro, notam-se estas manifestações de dança. No Brasil, entretanto, a verificação é mais fácil de se fazer do que em qualquer outra parte. Por que? Porque nenhuma dança poderá revelar tanto quanto o maxixe essa verdadeira alucinação que se apossa do instinto dançante da humanidade, hoje em dia".

Considero Chiquinha Gonzaga uma maxixeira de primeira, embora várias de suas obras tenham sido registradas como sendo dos mais variados gêneros: corta-jaca, tango brasileiro, polca... mas cá pra nós, "Gaúcho", uma de suas peças mais populares é um maxixe...e "Não se impressione", mais conhecido como Forrobodó, também é maxixe. Mas naquela época os compositores como Donga, Sinhô e outros levavam seus maxixes por aí como sendo sambas. Foi a tônica dos  anos 1920. Obras como " Pelo Telefone", "Gosto que me enrosco", "Jura" e outras representaram bem esta fase do maxixe disfarçado de samba.


Não dá pra deixar de reconhecer que o maxixe é o parente mais próximo do samba. Foi o que abriu portas para o samba, depois, deliciosamente, modificado pela turma do Estácio.

É isso aí. Deixe seu comentário e siga o blogue! Seja curioso e busque saber mais sobre o maxixe. Um abraço e até a próxima.




sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Reduto do Samba e dos bambas

O Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro,  surgiu no caminho do que era chamado, nos anos 20, de Mata-Porcos, mais ou menos onde hoje é a Rua Frei Caneca. Situado entre os vizinhos bairros do Catumbi, Cidade Nova e Rio Comprido, sobe pelos morros de São Carlos e de Santos Rodrigues. Ali viviam pessoas humildes, operários, comerciários e a camada mais pobre do funcionalismo público federal e distrital.. O comércio era composto de sapateiros, lojas de tecidos, armarinhos, uma fábrica de gelo, um cinema e muitos Bares e Cafés, como o Porta Larga, o Madureira, o do Pavão, o  Apolo e o do Compadre.

Era bem no Bar do Compadre que "batiam ponto" vários dos grandes bambas que fizeram a história do samba. Entre seus frequentadores estava o radialista Evaldo Rui, embora morador da Tijuca e que, mais tarde, se tornaria também compositor. Vejamos uma descrição que fez ele à Revista da Música Popular, já em 1954, ao lembrar do Bar do Compadre: "Eram duas portas que davam para a rua do Estácio. Do lado da rua Pereira Franco ficavam as outras três. As mesas eram de mármore e no fundo tinha uma vitrola "ortofônica", com uma imagem de São Jorge acima. Eu me postava diante de suas portas, quase que em todas as tardes porque ali se reuniam os meus ídolos, como Ismael, com seu irrepreensível terno azul marinho, camisa imaculadamente branca e gravata de tricot preta. A seu lado Nílton Bastos, uma das figuras maiores do Café, com seu chapéu de feltro marrom...e eu ficava pensando o que se passava naqueles papos? Deviam estar falando de samba. Aprendi muita coisa com aquelas conversas, como a diferença entre o bom samba, o puro samba e o mau samba, o falso samba."

Note o leitor que, já naquela época, a discussão sobre o samba verdadeiro já rolava. Evaldo Rui não era um qualquer... havia composto canções românticas com Custódio Mesquita e bem mais tarde emplacaria sucessos no carnaval como "Nega Maluca", parceria com Haroldo Lobo. Percebeu que naquelas mesas do Bar do Compadre estavam surgindo sambas novos, perfeitos para serem cantados e dançados enquanto o povo caminhava pelas ruas do bairro, rumo à Praça XI, para brincar no Carnaval.

Alcebíades e Rubem, assíduos frequentadores dos bares e conversas,  fundaram em 1925 o bloco carnavalesco "A União faz a força", que saía de seu ponto de origem, no Estácio,  com 50 pessoas, mas que na altura do destino final, na Praça XI, já contava com mais de 300 foliões. Foi o embrião da "Deixa Falar", a primeira Escola de Samba, criada já em 1928. A principal novidade foi a adoção de um samba diferente daqueles com que costumavam sair os bloco até então,  e a introdução do surdo de marcação, atribuída ao próprio Bide e a cuíca, segundo muitos, introduzida por João Mina. Merece destaque a questão do novo samba.

O musicólogo Carlos Sandroni diferencia este novo padrão de samba em relação ao antigo, pela originalidade de sua sincopação, segundo ele mais rica e livre da influência do maxixe. "No maxixe a síncope está contida dentro de um tempo, enquanto que  neste novo samba criado pelo pessoal do Estácio, ela transborda de um tempo para outro", nos relata o maestro Antônio Adolfo, também um estudioso dos primeiros sambas, que gostou muito da explicação dada por Ismael Silva, numa entrevista concedida a Sérgio Cabral, em 1974: "O samba era assim: tan tantan tan tantan. Não dava né? Aí a gente começou a fazer assim: bum bum paticumbum prugurundum...".. dizia ele que facilitava muito pro pessoal que saia no bloco...

Bide , consta também, foi quem levou o tamborim pros blocos e pra escola. Foi o primeiro a ser procurado pelo cantor Francisco Alves, a quem apresentou Ismael para formarem as parcerias e os negócios musicais...era sapateiro da Fábrica Bordallo neste tempo em que frequentava o Bar do Compadre. Mas depois dedicou-se somente à música, formando com Armando Marçal uma parceria que rendeu belas canções como "Meu Primeiro Amor", "A primeira Vez", "Que bate fundo é esse?" e "Violão Amigo", entre tantas. Juntos também participaram de inúmeras gravações e shows nas rádios, onde eram requisitados percussionistas.

Marçal e Bide

Pena que Armando Marçal tenha falecido cedo. Mas ele se foi fazendo o que mais gostava e sabia, fulminado por um colapso cardíaco em 1947, nos estúdios da RCA Victor. Bom relembrar que Armando iniciou uma geração de ótimos percussionistas da família. Quem não conheceu Nilton Marçal, seu filho, mais conhecido como Mestre Marçal? Mestre de bateria de diversas escolas, cantor, gravou excelentes discos e trabalhou durante algum tempo como comentarista das transmissões de carnaval da TV Globo. Eu mesmo tive o privilégio de falar uma vez com ele ao telefone, quando tive um estúdio de áudio, ali pelos anos 90. Pedi auxílio para um problema com a gravação dos tamborins de um samba enredo de uma escola de samba de Floripa. Estávamos, eu e meu sócio, num nó cego... os ritmistas, apesar de bons na avenida, "amarelaram" no estúdio e a gravação ficou muito ruim...Foi aí que Mestre Marçal generosamente nos ensinou: " Grava você e o seu sócio o desenho dos tamborins e sai dobrando a pista até parecer que sejam mais de dez... vai por mim meu irmão". Foi o que fizemos e deu tudo certo.

E não vamos esquecer que o filho de Mestre Marçal, portanto neto de Armando Marçal, também é um excepcional percursionista. Marçalzinho vive nos Estados Unidos há muito tempo e integrou a Banda que acompanha Pat Metheny, presente em seus inúmeros discos.

Outro talento desta turma do Estácio foi Nilton Bastos. Branco, filho de português, morava na rua Dona Zulmira, no Maracanã, mecânico do Arsenal de Guerra, frequentava o Bar do Apolo, no Estácio, diariamente, além do próprio Bar do Compadre. Era o compositor preferido do cantor Mário Reis, que gravou "O destino Deus é quem dá", e disse que , se não tivesse morrido tão cedo, vítima de uma tuberculose, Nilton Bastos teria sido um dos maiores compositores brasileiros. Mário Reis inclusive atesta que muitos sambas compostos pelo trio Nilton/Ismael/Chico Alves, foram criados, exclusivamente, por Nilton Bastos.

Vale citar ainda Aurélio Gomes, mais um destes bambas que tinha voz possante e foi responsável por puxar, no gogó, os primeiros sambas levados pela Deixa Falar. Bide reconhecia no amigo grande capacidade de improvisar versos, mas brincava dizendo que ele era incapaz de produzir um samba sozinho. Dele e de Baiaco é o grande sucesso "Arrasta a Sandália". Era soldado da Polícia Militar e malandro...espere aí? Seria possível isto...? Bem, podemos dizer que era mais malandro do que soldado, sendo amigo de Baiaco... Oswaldo Vasques, que era rufião da Zona do Mangue e intermediário do comércio de sambas da cidade.

Mais dois malandros pra finalizar... Mano Edgar, que apesar de trabalhar na Fábrica de Cigarros Souza Cruz, era muito mais conhecido como jogador e trapaceiro. Acabou assassinado numa roda de carteado na rua Joaquim Palhares, com apenas 31 anos. Almirante, cantor, radialista e autor de alguns livros afirma que Mano Edgar foi quem inspirou o estribilho do samba "Fita Amarela", um clássico de Noel Rosa. 

Terminamos com a figura mais impressionante da malandragem do Estácio. Silvio Fernandes, que apesar de negro, era conhecido como Brancura, por fazer sucesso entre as mulheres brancas que conquistava. Bravo e valentão, sabia como poucos usar a navalha numa briga. Consta como autor de alguns sambas também, como "Deixa esta mulher chorar", sucesso da dupla Francisco Alves e Mário Reis, de 1932.

Para saber mais sobre este pessoal maravilhoso do Estácio eu recomendo, entre outras obras, a leitura do livro "Uma história da música popular brasileira", de Jairo Severiano.


É isto aí amigos e amigas.. Deixe seu comentário para enriquecer ainda mais este espaço. Até a próxima. Abraços


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Ismael Silva, a matriz do samba carioca

O leitor que gosta de samba, acredito, já deve ter escutado falar muito e diversas vezes  sobre aquele que é considerado por muitos como o primeiro do gênero gravado. A canção "Pelo Telefone", de Donga, foi registrada no final de 1916 e gravada no ano seguinte pela Casa Edson e gera ainda muita polêmica quanto à autoria, uma vez que teria sido uma criação coletiva, concebida nos quintais da casa da Tia Ciata, ambiente frequentado por Pixinguinha, João da Bahiana, Caninha e Sinhô, entre outros, que creio, tenham participado tanto quanto Ernesto dos Santos, o Donga, na produção. O fato é que ela tem registro de composição de Donga e de Mauro de Almeida, um jornalista que seria o letrista.

Polêmicas sobre autoria à parte, estou entre os que  consideram "Pelo Telefone" não um samba, mas um maxixe. O Samba, tal qual ficou conhecido no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo é criação do pessoal do Estácio. E os grandes compositores deste antigo bairro do Rio modificaram aquele maxixe com tamanha maestria, incluindo novos instrumentos de percussão, que a coisa pegou de vez e nasceu o verdadeiro samba. Frequentavam os bares e botecos do Largo do Estácio e da parte baixa do Morro de São Carlos, figuras como Bide, Marçal, Nílton Bastos, Heitor dos Prazeres, Baiaco, Rubens Barcellos, Brancura, Mano Edgar e Ismael Silva e foram os que primeiro produziram sambas, como hoje conhecemos. E é sobre Ismael, este extraordinário sambista,  que hoje coloco um holofote, dos mais potentes, para fazer justiça a sua obra e ao seu pioneirismo.

Sem nenhuma formação musical, Ismael, nascido em 14 de setembro de 1905, em Niterói,  viveu bastante tempo, ao contrário de outros amigos e parceiros do Estácio. Logo aos 3 anos mudou-se com a mãe para o Estácio, no Rio de Janeiro, após a morte de seu pai. Por ter vivido bastante e dada a sua importância para o samba, concedeu diversos depoimentos, muitas vezes um pouco fantasiosos sobre sua trajetória. Certa vez contou que aos sete anos de idade pedia a sua mãe que o colocasse numa escola. Dona Emília dava de ombros por acreditar que estudo era coisa pra branco e que Ismael, negro e pobre, jamais se tornaria um "doutor". Diz então nosso Ismael que matriculou-se sozinho e por conta própria numa escola e se tornou um bom aluno, alfabetizando-se rapidamente. Chegou a concluir o ginasial. Mas aos poucos o samba foi tomando seu tempo e o doutor ficou mesmo pra trás. 

Aos quatorze anos compôs seu primeiro samba, jamais gravado, chamado "Já desisti", cuja letra já mostrava seu gosto pelo jogo e pela malandragem: “Já desisti de mulher / Já desisti do trabalho / Agora só me falta / desistir do baralho”. Nesta época já dominava bem o pandeiro e o tamborim, mas não o violão. 


Acho incrível e uma sorte imensa que todos estes talentosos amigos do Estácio tenham convivido nesta mesma época. Num tempo em que o rádio começava a ter muita audiência e apareciam grandes cantores, ávidos por novas canções para a produção dos programas que surgiam como o do Casé. Um destes cantores tinha um "faro" impressionante para descobrir e fuçar as novidades da cidade. Era Francisco Alves, também o mais popular deles, que frequentava todas as rodas musicais do centro ao subúrbio e acabou chegando ao pessoal do Estácio. Ao ouvir o samba "Me faz carinhos" quis saber logo quem era o autor e, numa época em que compositor nenhum ganhava um centavo por produzir suas canções, chegou a Ismael Silva e propôs comprar a obra. Foi assim que , por 100 mil-réis, Ismael abriu mão da autoria e o samba tornou-se um enorme sucesso, gravado em 1928 pelo Chico Viola. O passo seguinte foi tornar-se parceiro exclusivo de Francisco Alves, apesar de já ter um acordo de parceria com Nilton Bastos.  O esperto cantor não se fez de rogado e topou incluir Nilton Bastos no negócio. Seriam então um trio de compositores.

Já em 1931 estoura nas ruas e no rádio o samba "Se você jurar", até hoje o mais conhecido de Ismael. Não era pra menos, o samba possui uma bela melodia, com notas em intervalos mais longas, aliada a uma característica até então jamais utilizada, que era a segunda parte terminando com acordes que preparavam a volta para a primeira. O tema já era a malandragem: "Se você jurar / que me tem amor / eu posso me regenerar / mas se é para fingir mulher / da orgia assim não vou deixar", gravada pelo duo Chico Viola e Mário Reis. Um grande sucesso que consolidou a parceria e o negócio feito anteriormente.

Lamentavelmente, em setembro deste mesmo ano, morre Nilton Bastos, vitima de uma tuberculose. Tinha apenas 32 anos e o fato deixou nosso Ismael bem triste... pensou até em se mudar do Estácio. Em sua homenagem fez dois sambas: "Ri pra não chorar " e "Adeus". Mas vejam vocês como são as coisas... em substituição a Nilton Bastos, entra no negócio de parcerias de Francisco Alves e Ismael Silva, um jovem poeta da Vila, nada menos que Noel Rosa. Só que este não topou a exclusividade. Mas o que fizeram juntos rendeu maravilhosas páginas da nossa música. Ismael diz que foram 9, mas na real, esmiuçando e pesquisando a obra de Noel, chegamos a 18 sambas, 12 deles assinados também por Francisco Alves.

O leitor pode e deve procurar ouvir alguns dos sambas que marcaram este tempo, de uma beleza impar e eternos como: "A Razão dá-se a quem tem", "Assim, sim", "Ando cismado", "Boa Viagem", "Deus sabe o que faz", "Dona do lugar", "Pra me livrar do mal", "Uma Jura que eu fiz", entre outras...

A Deixa Falar foi um capítulo à parte e especial da vida de Ismael Silva. Os amigos do Estácio já tinham o hábito de se reunir no Carnaval e saírem perambulando pelas ruas da cidade, rumo à Praça XI, em torno de um bloco de sujos. Mas foi em 1928 que eles inovaram e criaram aquela que é considerada a primeira Escola de Samba, adaptando o samba aos desfiles carnavalescos, num andamento mais rápido e introduzindo novos instrumentos como o surdo de marcação, ideia atribuída a Bide, um dos fundadores, e a cuíca.

Em mais um de seus depoimentos, Ismael Silva registrou que foi ele quem inventou este nome "Escola de Samba", atribuído segundo ele, à existência da Escola Normal, de formação de professores,  no bairro do Estácio. Ele dizia, "é daqui do Estácio que saem os professores e por isso somos os professores do samba". A verdade é que enquanto a elite carioca desfilava em carros enfeitados pelas avenidas da cidade, nos dias de carnaval, o povão se divertia na Praça XI. E este povão era muitas vezes perseguido pela polícia, cujo esporte era prender pobre e desocupado. Mas com a organização em bloco e depois escola de samba, este povo foi ganhando moral e fez surgir outras agremiações na esteira da Deixa Falar, que saia de Vermelho e Branco, cores do América Footbal Clube, que tinha sua sede também próxima ao Estácio e com muitos torcedores no bairro,   na época .

Uma pena que a Deixa Falar tenha desfilado apenas de 1928 a 1931... em 1932 seus diretores a transformaram em Rancho, ano em que foi organizado o primeiro concurso de Escolas de Samba. Humberto M. Franceshi relata em seu livro "Samba de Sambar do Estácio" que a transformação da Deixa Falar em Rancho foi uma proposital invasão de estranhos em sua diretoria, que teria sido promovida por gente ligada ao Governo Vargas, pós revolução de 30. Não creio. É muita forçação de barra. Penso que como os Ranchos tinham muito mais moral e prestígio, a diretoria tentou se organizar como tal... mas foi um fracasso e a Deixa Falar ficou na estrada como um fato histórico...

Para saber mais sugiro ler o excelente livro "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro" de Sérgio Cabral. 

Um abraço e até a próxima.